quarta-feira, 30 de julho de 2014

PÉS E FÉ!

eNTÃO...


Os desígnios divinos são insondáveis. Quem me conheceu na infância ou na adolescência não preveria jamais as aventuras acrianas. Talvez até duvidasse se algum bom inventador de estórias as predissesse. E embora tenham sido poucas minhas saídas com essa galerinha da foto, vivemos emoções únicas na minha vida.

Em uma de nossas viagens, já na hora de embarcar para o retorno, vi-me com os pés enlameados. O rio havia baixado durante a noite e aproximar-se do casco exigia meter os pés no barreiro. Consequência óbvia é que antes de subir na canoa lavaríamos os pés. Sentei-me na borda do barco e comecei a lavar os meus. De repente um desses irmãos, estando dentro do rio, me disse "padre, dê licença!" e mais que depressa passou a limpar-me os pés.

Gesto simples, mas que mexeu profundamente com meus sentimentos. Naquele momento, ter meus pés lavados de forma tão fraterna e servil abriu-me dois campos de reflexão que me "atormentaram", em bom sentido, por dias.

Primeiro... Não sou deste mundo de banhos no rio, lamaçais, viagens de canoa, carne de caça e afins. Esforço-me para lidar bem com isso, contudo nem sempre consigo. E aquela ação de tão rapidamente por-se a lavar-me os pés fez-me pensar "será que nem isso consigo fazer de modo tranquilo sem que alguém sinta a necessidade de ajudar-me, de proteger-me?". É, certo complexo de inferioridade há muito superado quis retornar das cinzas, desestabilizando-me.

Segundo... Eu não teria dificuldade alguma de fazer o mesmo por alguém. Entretanto, conhecendo tanta gente quanto conheço, suspeito não ser comum lavar os pés de outrem. Para tal é preciso que o lavador tenha fé, despojamento e humanidade. Ao lavado, é preciso ser, de alguma forma, estimado. Esses truísmos tão pessoais me alegram sim, e me incomodam também.

Penso que poderia escrever um grande capítulo sobre minha leitura de tal fato, mas para um blog, este texto já está grande demais. Então, preciso terminar deixando o saldo que carrego daquele dia: Jesus muda a vida das pessoas. Mudou a minha e mudou a desses homens também. Complexos e questionamentos levarei comigo sempre, indiferente deles, porém, o real é que em nossas viagens missionárias fizemos a experiência de uma irmandade que supera vínculos de sangue e que se firma no desejo de servir a Deus, apesar de nossas limitações. 

Nem eu e nem algum deles é santo hoje. Talvez o sejamos no futuro - creio não tão próximo! Temos defeitos e muitos. Mas estamos por aqui tentando acertar a cada dia. Deus nos ajude.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

RITOS DE PASSAGEM

eNTÃO...

"... mas é muito bom saber que em Feijó você tem amigos!"
(Versos cantados na 1ª Confraternização dos Músicos de Feijó)

Há pouco mais de seis meses me despedi da paróquia em Jacarezinho. Agora estou me despedindo da paróquia em Feijó. Era pra ser bem diferente, mas algumas coisas se repetem e não consigo entendê-las. Bem, esse é outro assunto, ledores? Por favor, perdoem-me esta tão imediata divagação.

Vamos lá. É comum que as sociedades estabeleçam ritos de passagem para marcar mudanças sociais, familiares, históricas, ou mesmo ontológicas (no caso religioso). Tais ritos, tão diferentes nas diferentes culturas, amiúde exigem discursos, lágrimas e festas. É o despedir-se de uma realidade para inserir-se noutra. Mudança supõe medo, readequações e, talvez, distância! Não mais se verá, não mais se ouvirá, e os passos juntos tornar-se-ão passos a sós.

A certeza do incerto faz com se celebre o que há, findando ritualmente sua existência, em preparação para aquilo que vem. Os ritos também têm a função de agradecer pelo que se está prestes a findar, e buscar bons presságios para a nova realidade que se está para começar. Para isso vale abraçar, dizer pública ou pessoalmente de sentimentos bem guardados. Vale dar um presentinho. E a comensalidade faz parte.

É o momento em que descobrimos a real importância de pessoas, costumes, lugares e coisas na nossa vida. Fica a sensação de que deveríamos ter amado mais? O importante é que amamos! E que sigamos amando...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

SONHOS ROUBADOS

eNTÃO...



Amores... São tantos, não? Amamos coisas, pessoas, lugares, situações, hábitos, privilégios, etc, etc, etc. Muitos desses amores entram em algum momento em nossa vida, e ficam para sempre, ou, por alguma razão, se vão.

Mas nesta hora em que escrevo, recordo-me da fala de Jesus: "não é possível servir a dois senhores..." Bem, quando amamos, o objeto de nosso amor é quase sempre um senhor em nossa vida. E se esses senhores entram em conflito, é o nosso arbítrio que terá a responsabilidade de colocar cada amor em seu lugar. Um subirá ao pódio e o outro, se não eliminado, perderá muito de seu espaço.

Talvez alguns desses amores, embora contraditórios, até consigam conviver bem. Não nos enganemos, só parecem consegui-lo porque nós não nos permitimos um confronto com eles. Bom, uma hora isso será inevitável.

Ledores, confesso não saber bem ao certo como terminar este texto. Talvez isso se dê pelo fato de que amores, aparentemente, não são feitos para ter fim. Nunca esperamos que aqueles ou aquilo de que gostamos se apartem de nós. Bom, uma hora isso será inevitável também.

Desta finitude tão presente, aprendo a cada dia a importância de amar em atitudes, perdoar de coração e de reconciliar constantemente. Carregar as agruras de um silêncio não mais rompível deve ser o pior de todos os castigos.

Deus nos livre disso. Amém.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

SEGUNDAS INTENÇÕES

eNTÃO...

Dizem que de boas intenções o inferno está cheio. Nem posso concordar ou discordar. Não sei quantos estão no inferno, aliás, até prefiro desconhecer tal quantia. Tenho pensando em como estamos constantemente caçando as intenções escondidas nas atitudes daqueles que nos cercam. Pior é que, com frequência, esperamos encontrar, quando não má, ao menos uma dúbia intenção em tais circunstâncias.

Um padre que, de repente, decide deixar seu estado e ir colaborar com a Igreja em outro estado, será facilmente compreendido se esse outro estado for Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro. Mas se é o Acre, alguma coisa tem de existir. E uma pulga se coloca atrás de muitas orelhas. Não poderia o tal padre simplesmente querer fazer missão? E o engraçado é que a incógnita não atormenta só aos pseudo matemáticos do sul. Os do noroeste também acabam acometidos pela questão: "por que veio afinal?".

Bem... A história do padre é pura fábula. Imaginação minha! Mas no campo da realidade, quando alguém: nos dá um presente, nos elogia, nos abraça... quando alguém se atrasa, se ausenta, se cala ou então muda de assunto... Enfim, se esse ente imaginário que estamos chamando de "outro" foge do padrão esperado por nós, e reage distintamente daquilo que a princípio nos agradaria, não partimos em busca de intenções para tais imprevistos?

É ledores, eu creio que partamos sim. E seria tão mais fácil se entendêssemos tais situações com naturalidade. Às vezes houve um imprevisto que justifique atraso e ausência. No mais, somos forçados a admitir que há assuntos dos quais não queremos falar e prefiramos não ouvir. 

Confesso e não nego que talvez este texto não diga muito. Mas reconheço que gostaria de ser mais compreensível e de não ver rejeição como pano de fundo, ou melhor, como segunda intenção nas atitudes de outrem. Afinal, tão pouco rejeito e tantos paradigmas quebro!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

FERIDAS

eNTÃO...




Incrível como algumas situações, por mais que já se tenham passado há tempo, ainda entristecem, chocam, machucam a gente. Pego-me sofrendo, às vezes, por coisas que desconfio ninguém mais se lembrar.

Palavras ditas ou ouvidas, escritas ou lidas. Situações constrangedoras. Desrespeitos. Incompreensões. Negações ou imposições. Tais momentos conseguem infringir em nós feridas de cicatrização lenta. Chagas que podem doer toda uma vida, acompanhando-nos até a hora da morte.

E por mais que a gente amadureça, que entenda tais situações e até perdoe as pessoas envolvidas em muitas delas, isso nem sempre é o suficiente para fazer cessar a dor. E como disse Marília Gabriela entrevistando Adriane Galisteu "lidar com a rejeição é coisa complicada demais, anos de terapia nem sempre resolvem!". Concordo com ela.

Bem, a nós que somos cristãos, resta buscar a serenidade em Deus e nele encontrar o equilíbrio para lidar com essas dores.O fato de tais feridas estarem em nós não significa que possam controlar nosso comportamentoNenhuma delas nos faça amargurados, abatidos ou intragáveis. 

Deus nos ajude. Amém.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

NOSTALGIA

eNTÃO...


Tenho usado parte do meu tempo livre procurando antigos colegas de ginásio e de ensino médio no facebook. Chamo esse momento de "crise dos 35". Sinto necessidade de olhar para trás e de valorizar momentos e pessoas que marcaram minha vida. Saber como estão, o que fazem, onde vivem... 

Suspeito que parte deste sentimento provenha da experiência da distância. Sair do Paraná para tão longe tem me forçado a olhar para trás. E claro que a idade que avança também me impõe a constante e tétrica sensação de que a morte se aproxima na mesma medida em que a vida de esvai. Por favor, não se engane. Não estou pra baixo, muito menos infeliz. 

A vida é feita de parcerias. Sempre há alguém conosco fazendo alguma coisa. Seja turma de escola, de trabalho, de igreja, ou de família. Não somos sós. E tais pessoas de algum modo nos acolhem, nos guardam, nos integram. E nós fazemos o mesmo com elas. O cruel é perceber que amiúde tais relações nos passam despercebidas. Guardamos os mais chegados como amigos indispensáveis e relegamos os outros ao status de colega. No fim, o tempo passa e mesmo os indispensáveis acabam tomando outro rumo. Raramente alguém permanece a vida toda ao nosso lado.

Claro que também há rejeições, nem tudo na vida é acolhimento. Mas disso falaremos outra hora. Por hoje, convido-os, ledores queridos, a pensar em todo bem já recebido de pessoas que já não estão por perto. Que tal agradecer a Deus pela vida dessas pessoas? É o que mais tenho feito.

Até breve.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

MALAS E MEIAS...

eNTÃO...


Este é meu ano de mudanças. Um mês em Andirá(PR). Seis meses em Feijó(Ac). E em breve me mudarei para Eirunepé(Am). Já começo a pensar nas malas que precisam ser feitas. Mais que mudar de endereço, mudo de vida, sem mudar de vida. Continuo eu: rezando missa, crendo no Reino e fazendo aquelas minhas pregações.

Mudo ao conhecer um Brasil bem maior do que aquele do mapa e cresço ao descobrir um mundo tão multifacetado dentro do meu próprio país.


Isso me faz pensar em como a vida é linda e os desígnios de Deus são perfeitos. Ninguém, nem mesmo eu, entendeu os motivos que me fizeram escolher um tempo exilado na Amazônia. Só o céu responderá!

Assim, não há palavras inteiras que expliquem o hoje. Menores ainda seriam palavras que intentassem desenhar a realidade futura. Cabe-nos assumir nossa responsabilidade em cada uma das decisões tomadas e permitir que Deus providencie a realização de sua divina vontade entre nós.

Assim confesso, assim desejo, assim espero!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

DISTÂNCIA

eNTÃO...


Mais de um ano depois de minha última postagem neste blog, eis-me aqui. Já há dias venho pensando no significado da palavra distância. Ela pode simplesmente representar o espaço existente entre duas coisas, filosoficamente falando, ou se preferirmos o campo da física, dois corpos.

Mas esse espaço, ou seja, esta distância, ela pode ser medida como? Com medidas de comprimento,de metros a anos-luz. Ou então com medidas de tempo, de minutos a milênios. Mas há uma dimensão nesta coisa de distância que tem me incomodado. Como medir o espaço se as coisas não forem corpos, mas forem almas?

É, ledores queridos, às vezes tenho a impressão de que algumas pessoas que fisicamente estão tão distantes, ao mesmo tempo estão por aqui, no meu coração, na minha mente, nas minhas preocupações, no meu afeto. Também há aquelas de cuja distância é mínima hoje, e que aos poucos estão conquistando um espaço em mim e, por conta disso, talvez jamais eu as possa libertar de mim.

Fica aqui, neste meu displicente e barato retorno, a proposta de que você que reflita sobre as distâncias da vida. Para isso, encontre um canto silente, e deixe a voz do céu falar com seu coração. Há proximidade na distância e, não raro, há distância na proximidade.