sexta-feira, 19 de agosto de 2016

RELAÇÕES, SILÊNCIO, VERDADE

eNTÃO...

As relações humanas são sempre surpreendentes. Bate-se o olho em alguém. Sem qualquer justificativa pertinente, sente-se dali um germe de afeição. Trocam-se meia duzias de palavras. "Puxa, gente boa" - é o que se pensa. E os brotos vem. Somente o tempo, porém, revelará o fragor das flores e o gosto dos frutos.

Sim, ledores, falo de modo geral. Por "relações" pode-se imaginar afetos passionais ou fraternos, familiares, profissionais ou lúdicos. Onde há pessoa humana, há naturalmente ambiente sociopolítico. E por mais reservado que um indivíduo seja, ainda assim percebe-se influenciado e influenciante. Não se consegue fugir disso.

Como julgar, todavia, o momento em que silêncio se impõe sobre o que outrora se manifestara com muitas palavras, risos, fotos, brincadeiras, comeres e beberes em parceria?

Creio não haver uma fórmula matemática que elucide com perfeição a dúvida que se nos surge na alma em tais situações. Por vezes se sabe a razão do afastamento. Noutras não. Vale a certeza de que tudo o que se viveu foi verdadeiro no instante exato em que existiu. E apenas tal já dá significado à história passada, impulsionando o presente a construir o alicerce do vindouro que se chega.

Prossigamos! Eis a resposta sempre válida.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

NADA SOBRE NADA

eNTÃO...

Sim, ledores, fiquei bom tempo sem escrever. Não por falta de vontade. Talvez faltou coragem. Muitas coisas quis dizer, mas recuei, repensei, me calei. Motivos? Difícil traduzi-los em signos que representem com alguma proximidade o que são, afinal, compôs Catulo da Paixão Cearense "como definir o que só sei sentir?".

Fato é que tenho me dado conta, quiçá erroneamente, de que não pertencemos a nós mesmos. Somos nossos sem o ser de verdade. Afirmação que, de longe, me lembra Sartre ao condenar-nos à liberdade "infernalizada" pela presença do outro. Senhores soberanos de nossas decisões, sem escape possível do crivo laudatório ou condenatório dos conhecedores das tais escolhas. Sempre em relação e nunca realmente a sós, vemos-nos obrigados a gozar ou chorar dos penetrantes dardos afiados em saliva e atirados contra nós por lábios naturalmente normais.

Há insensíveis que, mesmo alvejados por diversos lados, conseguem gelidamente não sofrer. Há quem se quer se fira. Há também quem se desmonte, quem se desfaça, quem se deprima. Há os que nada percebem. Focados em si mesmos ou em seus projetos, os gritos do derredor pouco ou nada lhes comunica. E há os que são como eu... Mas não os sei caracterizar. Paciência, eis apenas mais um de meus muitos limites.

Sendo assim, calar-me, em tal delicado momento, mostrou-se-me o melhor desafio a encarar. Hoje, porém, a tentação de somar letras e costurar palavras foi mais forte e eis-me aqui a, como dantes, coisa importante alguma dizer. Salve-me a gentileza caridosa deste que seu tempo dedicou a tão atenta leitura. 

Grande abraço, ledores.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

SESSENTA MINUTOS

eNTÃO...

Ledores, voltei. Perdão pelo tempo de silêncio. Meados de janeiro, férias. Fim de janeiro, posse. Creio que já consiga postar semanalmente. Ouço agora alguns clássicos da Harpa Cristã na voz de J. Neto. Sim, são pérolas da música protestante. E daí, meus ouvidos não conseguem ser preconceituosos. Na verdade, eu não consigo. 

Meu coração, confesso, está serenamente apertado. A razão? A de sempre: a vida. Num período de sessenta minutos, ministrei a unção a um senhor de 65 anos que descobriu hoje estar com câncer; chegando de lá, no celular a notícia do falecimento de alguém muito querido; visitando minhas sementeiras, percebi várias plantinhas brotando. E após regá-las, perguntei-me: como pude esquecer-me de ir cortar o cabelo? Aff... A questão real deveria ser: "como pude pensar em cortar o cabelo?".

Calma ledores. Já organizo os pensamentos e clarifico a temática. Vejam a sequência: a luta esperançosa de uma família, a tristeza de outra, e a vida ressuscitando do sepulcro da semente. O dia a dia nos impõe a desafiadora missão de sobreviver. Enquanto sobrevivemos, ao redor de nós, o mundo se renova, alguns movimentos cessam simultaneamente ao iniciar pueril de outros. O tempo segue e em inúmeras situações nas quais mal nos damos conta, podemos nos deixar seduzir por futilidades que cegam, prendem-nos em nós mesmos ao prenderem-nos a elas, impedindo-nos de ver, sentir, e andar pelas trilhas do que realmente é importante.

Não, ledores, cuidar da aparência não é em si futilidade. Fútil é não valorizarmos pessoas e momentos. Fútil é não sermos capazes de colocarmo-nos ao lado do outro, principalmente em suas angústias. Fútil é julgar o outro por nós mesmos, não respeitando suas fraquezas e limites por acreditarmos não as termos. Fútil é esquecer-se que no mundo da materialidade tudo passa, e por isso o eterno é a experiência, boa ou má, gravada na alma.

Enfim, depois de tantas emoções humanas, preocupar-se com canteiros e jardins? Poder-se-ia considerar futilidade. Todavia, ver os frágeis ramos irromperem a terra em busca do sol fez-me repousar a tristeza das experiências na certeza de que mais perto de Deus havemos de estar a cada instante. Que nas lágrimas e nos sorrisos da cotidianidade, a graça de Deus nos conduzam, providencialmente, pelas sendas da salvação à glória dos céus. Amém.

Em tempo, composta por volta de 1841, esta canção é sempre boa de ser ouvida.



terça-feira, 5 de janeiro de 2016

TRANSPARÊNCIA

eNTÃO...

Adão justifica ter-se escondido afirmando envergonhar-se da própria nudez. O argumento denuncia a desobediência praticada e desvela a sinistra tramoia que levou a humanidade a perder o paraíso. Ardilosidade da serpente somada a ambição e imprudência humanas deixaram-nos, como herança, o pecado mortal. Daí para aqui, olhar-se jamais voltou a ser a mesma coisa de antes. E momentos há em que, vermo-nos "despidos" gera apenas um impulso: caçar um esconderijo!


Atenção, ledores, entendam bem: as aspas usadas no parágrafo anterior tornam o termo uma metáfora. Tal compreensão é indispensável para que o teor deste texto seja devidamente aproveitado. Prossigamos.

Horas há em que aproximo-me de licitar o inaceitável hábito do uso de máscaras. Embora em algumas ocasiões possam ter a vil finalidade de enganar ou manipular, noutras percebo o caráter protetor que assumem. Escondem humilhantes imperfeições e atuam como poderosos amuletos, encorajando e tranquilizando corações. Apesar de paliativamente, desempenham uma função calmante que permite relações interpessoais serenas, ainda que carentes de certa veracidade.

E já não sei tratar sobre o fato de algumas máscaras serem tão perfeitamente "vestidas" que culminam enganar àqueles que as utilizam. Nem sempre quem nos quer aliciar tem consciência da maldade de seu desejo. Talvez seus atos sejam apenas fruto da mentira na qual creu. Falácia necessária à sobrevivência pacífica consigo mesmo.

Confesso-me incapaz de julgar positividade e negatividade nas proposições apresentadas acima. Destarte, cada um as valore como bem o quiser. Só me resta citar os belos versos da canção "lágrimas doem mesmo quando estão escondidas no olhar".

Bjs.