sexta-feira, 19 de setembro de 2014

DERROTAS

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Pois é, a gente perde. Às vezes por não ter tentado um pouco mais. Outras porque somos realmente incapazes de vencer. Também há situações em que a derrota é causada por eventos circunstanciais casuais que, justamente por serem inéditos, nos roubam a capacidade de deliberar com sabedoria ou, simplesmente, nos impelem a uma decisão imediata irrefletida e imatura.

Fato é que apesar de termos muito boas intenções e de nos dispormos com bom coração, nem sempre tudo funciona como o sonhado. Pior ainda quando o itinerário percorrido foge daquele que fora planejado. Óbvio que não falo aqui de deslocamento físico-geográfico, mas de projeto de vida.

Enfim, nessas horas, ou voltamos ao começo e estabelecemos nova caminhada, objetivando desviarmo-nos dos desvios anteriores, ou reconhecemos que é hora de tomar novo rumo. Seja como for, do abatimento interior é muito difícil de fugir, principalmente quando se tem consciência de que as coisas não foram ou não são como deveriam ser e que, de alguma forma, você colaborou para que isso fosse assim.

Seja como for, mais pra lá ou mais pra cá entre as loas e as críticas, que Deus nos conceda a alegria de prosseguir em paz com nossas derrotas, sempre perseverando em busca da vitória final que, eu creio, nos pertence, pois somos filhos amados de Deus e "tudo concorre para o bem daqueles que o amam".

Abração, amigos ledores.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

SILÊNCIO E COMUNICAÇÃO

eNTÃO...


Falar nem sempre é melhor! E embora haja momentos em que a vontade de denunciar incoerências seja quase incontrolável, ainda assim, calar pode ser a melhor saída. Não por medo ou por proteção, mas por prudência, bom senso mesmo. Quando a denuncia é capaz de promover mudanças significativas e, consequentemente, alavancar uma luta pelo bem, sim, a denuncia deve vir a galope. Se, porém, ela conseguir apenas promover mais males e mais sofrimentos para os inocentes, então aprendi a acreditar que o melhor é manter-me silente.


Não que isso seja fácil de fazer ou fácil de entender. Pelo contrário. Imagino que muitos de vocês, ledores, questionam minha afirmação. Ainda mais estando carentes do contexto real que me levou a esta conclusão. Bem, como sou campeão em não dizer o que não quero, não tencionarei de forma alguma qualquer espécie de exemplo. E isso para evitar que a imaginação de vocês tente ler o que não escrevi. Hehe.

Vale, todavia, olhar para si mesmo e a própria história. Nunca existiu em sua trajetória de vida aquela situação em que dizer algo, por mais que verdadeiro, apenas piorou tudo e deu muito mais dor de cabeça? Nunca existiu aquele momento em que mesmo sem querer acabou envolvendo desnecessariamente outras pessoas em problemas que eram apenas seus? Tomara que não! Oxalá mesmo.

Agora algo muito importante preciso dizer antes de findar. Não defendo aqui o "lavar as mãos" ou o "fazer-se de morto". Longe de mim incentivar uma política de resignação e conformismo. Não é assim. Acontece que mudanças estruturais, para o bem da maioria, exigem instancias não públicas.

Eita, texto complicado este de hoje. Abraço, ledores fiéis. 




segunda-feira, 15 de setembro de 2014

DESENCONTROS

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Disse o grande Vinícius de Morais: "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida!". Desde que o ouvi dizendo isso, guardo comigo essa premissa. E nos últimos tempos tenho pensado muito nisso. Os encontros e desencontros, às vezes abençoados e noutras vezes trágicos, que vivenciamos na vida.

Inquieta-me pensar em como há pessoas querendo amar pessoas que, de alguma misteriosa forma, não querem ser amadas. E não falo apenas em passionalidade, penso em alunos que rejeitam o cuidado de seus professores, pacientes que abandonam o cuidado de seus médicos, colegas de trabalho que fecham a cara e viram às costas a propostas de ajuda de outros colegas, e até suspeito de padres que se fecham ao carinho de seus paroquianos.

Tão tristemente natural tais coisas acontecerem, não? E inquieta-me mais ainda imaginar que, em muitos casos, isso se dê porque o amor oferecido, apesar de puro e verdade, é dispare do amor esperado, desejado, buscado. Esse é o pior dos desencontros. Digo isso porque em ambos os lados há veracidade, há abertura, há procura, mas "pino e plug têm medidas diferentes e não se encaixam"!

Na melhor das hipóteses fica cada qual de seu lado. Uma ou outra mágoa, um ou outro ressentimento resulta como natural. Na pior das hipóteses, no fim da vida, acabamos olhando para trás e nos martirizando com a cruel autocobrança "devia ter sido menos duro, menos fechado, menos exigente". 

Ledores, Deus nos dê um coração capaz não só de amar, mas também de receber amor. Beijo no coração de todos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

VÔOS E ATERRISSAGENS

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Essa foto é do dia que parti de Feijó para Eirunepé. Interessante que de tudo que me falaram a respeito desta cidade, as únicas coisas que realmente me parecem verdade são que por aqui se come muito peixe e que em alguns momentos nos sentimos isolados do mundo.

Não encontrei uma paróquia tão movimentada quanto se me prometiam. A cidade é movimentada. Mas uma coisa é bem diferente da outra. Também me falaram de um povo de sensualidade à flor da pele e de certo hedonismo livre. Se é assim, e não duvido que o seja, tal mundo, como não podia deixar de ser, não se aproximou de mim. Não o vejo, não o ouço, talvez perceba alguns indícios, mas que não o comprovam sem ressalvas. A cidade não é tão acabada quanto se pinta por lá. Mas precisa, sim, de investimento em urbanismo, lazer e cidadania.

A história do peixe é interessante porque há muitas reses em Eirunepé. Se todas as manhãs há venda de peixes enormes em feiras livres, há, todas as noites, muito mais casas de churrasco funcionando aqui que em Feijó. Já a ideia de isolamento, bem, desta não dá pra negar nada. Os aviões agora estão mais escassos que antes. Não têm horário de chegar nem de sair. As empresas traçam uma rota e de repente fazem outra. Se um produto acaba na cidade e pode chegar por sedex de Manaus, tudo bem, em no máximo uma semana está aqui. Mas se tiver de vir de balsa...

O legal é que eu sou o estrangeiro! Para a população local, assim é que é, e assim está bom. Desta forma, todos sofrem sem sofrer. E eu fico me perguntando o que são: vida, costumes, luxos, prazeres, expectativas e afins? Pode-se nascer, crescer e morrer no meio da floresta, ser feliz apesar dos limites, e compreender um sentido de vida inimaginável para quem vem de lugares um pouco mais desenvolvidos! Mas cá e lá são diferentes demais. Admiro quem consegue transitar pelos dois mundos e de ambos gostar.

Abraço, ledores queridos e fiéis.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A VIAGEM

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A bem sucedida novela de Ivani Ribeiro é muito sedutora. Contar uma história de amor que vence as barreiras do tempo e do espaço, perdurando por várias reencarnações, de fato mexe com a alma da gente. Penso que isso se deva ao fato de que está inscrito em nosso inconsciente o desejo de que haja uma destinação de felicidade plena e perfeita para todos. Interessante pensar que grande massa de pessoas acredite que esta destinação de felicidade se oriente para outra pessoa, a outra metade da laranja, a alma gêmea.

Ver a forma como, apesar de as circunstâncias favorecem o ódio entre Diná e Otávio, eles são vencidos pelo amor, fascina. Perceber que ambos, cada um a seu modo, são intranquilos enquanto não se conhecem, faz desejar o reencontro com aquele(a) que nos trará a paz perene e constante. Juntos, mesmo precisando enfrentar duras situações, descobrem-se fortalecidos e preparados. Porém, após se conhecerem, a separação sem volta causada pela morte deprime letalmente aquele que fica. A mesmo a saudosa tristeza da protagonista acaba sendo bonita. O reencontro em "nosso lar" é desejado e emociona o telespectador mais fiel.

O que me incomoda nesta história é a forma como, após se conhecerem, ninguém mais parece ter real valor para eles. Filhos, irmãos, amigos... todos são amados, sim, porém relegados a segundo plano na vida dos protagonistas. Sei lá... Pode até ser bonito, mas acho estranho!

Sim, é uma novela espírita. Em nada cabe naquilo que creio sobre Deus, céu, inferno, amor...Todavia cria consciência e esperança nos cristãos mais ingênuos ou desinformados que a assistam. Bem, ledores, todo esse papaguear é apenas para manifestar minhas reflexões a cerca do quanto sonhamos encontrar um grande amor e também do quanto ansiamos pela felicidade ao lado de alguém.

Que Deus nos conceda a felicidade desejada! E que a encontremos nos moldes de nossa fé. Fui.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

AMOR

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Afinal de contas, o que é amar? O que é estar apaixonado? Há quem distinga as duas coisas. Fala-se que a paixão é quente, sem juízo, juvenil e passageira, já o amor seria sereno, sensato, maduro e eterno. Já nem sei se existe uma distinção possível. Creio que amor sem paixão seja insípido, e paixão sem amor seja algo muito próximo da insanidade. Assim, a paixão tempera o amor, e este orienta aquela.

Por que falar destas coisas, ledores? Nem sei, ó. Sei que esse misterioso sentimento, que une duas almas no gostoso bem querer, fazendo-as sair de casa para ter sua casa, e "abandonar" suas famílias para constituir sua família, é um caminho de realização humana realmente divino. Não poderia ter outra fonte que não Deus.

Isso não pode tornar a vivência do amor algo fútil ou puramente pessoal e momentâneo. Não se pode dizer "temos de curtir o momento" ou "não há pecado algum nisso". E a razão pela qual faço tais afirmações é muito simples, amor não é sinônimo de irresponsabilidade, muito pelo contrário.


Pois é, voltei a falar nada com nada numa postagem. É o autor dos primeiros textos deste blog. Voltei, ledores! Hehe. Bem, findo desejando que Deus nos ensine a amar como se deve. Um amor que seja livremente responsável e honesto, satisfatório e realizante. Que os casais sejam formado para viver a plenitude da felicidade na vida a dois.

Abraços.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

ENCONTROS E DESPEDIDAS

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O vídeo é da antepenúltima cena do último episódio da última temporada de Desperate Housewives. Essa bela canção de Johnnys Mathis me marcou. Na penúltima cena, as quatro protagonistas se encontram pela para jogar cartas antes que Susan se mude do bairro. Elas se comprometem a uma vez por ano se reencontrarem para o jogo que semanalmente as divertia. A promessa é verdadeira, mas nunca chegara a ser cumprida. Pois cada uma delas se muda de lá e nunca mais acontece um encontro.

O final da série faz um retorno ao enredo da primeira temporada e é cheio de vida, de realizações, de conquistas, de superações. Todavia finda com o realismo da separação. Cada um delas, por mais cúmplices e amigas que tenham sido, acaba rodeada quase que exclusivamente do marido. Isso me fez pensar na fugacidade da vida e das relações.

Acredito que as personagens se gostaram para sempre. Recordaram com carinho uma das outras até o fim da vida. E tiveram muitas e intensas saudades de tudo o que viveram, aprontaram e resolveram juntas. Mas houve um momento na história de vida delas em que a separação foi indispensável. 

Fiquei pensando: "a vida realmente é assim?", "são mesmo pouquíssimas as pessoas que vão durar em nossa vida até o finzinho dela?". É quase certo que sim. Bem, ao mesmo tempo que em essa música, que passei a ouvir muito de um ano pra cá, me entristece pela lembrança dos distanciamentos que a vida nos impõe, ela também reforça algo que prego há tempos "como é bom ter amor e carinho para recordar!".

Sim, acredito de verdade que a saudade e as lembranças podem ser carregadas da gratidão e da alegria de saber que amamos e fomos amados. O fim de um relacionamento, de uma proximidade ou de estágio de vida não precisa gerar saudades carregadas de tristeza e de perda, pode gerar saudades sobrecarregadas de alegria e gratidão. Afinal, como é bom poder saber que vivemos momentos bons ao lado de pessoas queridas.

Por fim, vale lembrar que não se pode perder a oportunidade de curtir os momentos e as pessoas que estão conosco hoje. Se um dia serão passado, pois que amanhã nos lembremos de hoje com a satisfação de o termos vivido intensa e saborosamente.

Fui.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

UM ANO...

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Hoje faz um ano que escrevi para Dom Antonio Braz mencionando meu desejo de mudar de paróquia e explicitando certo enamoro ao pedido da Diocese de Cruzeiro do Sul por ajuda missionária. Estive lendo o que escrevi naquela data e lembrando do contexto. Fazer memória nos deve ajudar a entender quem somos e como assim nos tornamos.

O ano de 2013 foi marcado por muitas desilusões, já desde janeiro. E muito do que eu considerava verdadeiro, revelou-se incerto. Descobri a fugacidade do respeito e do carinho nos quais acreditei e fiz a cruel experiência da solidão sacerdotal. Os que nos poderiam proteger cruzam os braços. Os que nos poderiam consolar não devem conhecer tais bastidores. E a nós, cristãos, com nossos limites, dores, fraquezas, nas mais difíceis horas de crise, cabe apenas um imperativo: amar!

E nasceu em mim a necessidade de sair de onde estava. O mais "doido" é que todas essas intempéries me fizeram olhar para o novo, para o inédito. O Acre não entrou na minha vida como uma rota de fuga, mas como uma oportunidade de me renovar, de me reencontrar com o ideal sacerdotal que cultivei por sete anos no seminário e de me reinventar como homem, como cristão e como padre. Eu tinha outras opções, paróquias na diocese ou próximas da diocese, todavia eu sonhava com a Amazônia, na qual displicentemente falava já um ano antes de tudo isso.

Eu queria servir. Queria ajudar a uma diocese que há anos nos pedia ajuda sem resposta positiva. Queria ir ao encontro de pessoas afastadas geograficamente da Igreja e dos sacramentos. Queria me desvincular um poucos dos apegos materiais que se haviam gerado em mim. Mas acima de tudo, queria fazer a vontade de Deus. E a certeza de que meu rumo em 2014 era o Acre foi tão intensa quando a certeza de que deveria deixar família e trabalho para ir pro seminário e ser padre.

Enfim... "Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8,28). A cada dia me convenço mais de que me era necessário partir. Se eu disser que me apaixonei pelo norte do Brasil, minto. Se eu disser que estou mal ou sofrendo aqui, também minto. A grande verdade é que Feijó e Eirunepé me fizeram bem! Pois de alguma misteriosa maneira meu coração está sendo remodelado.

Sou grato a Deus pela vida, vocação e experiência na Amazônia. Grato a Dom Antonio Braz pela compreensão e apoio; a Dom Mário Antonio pelos conselhos, amizade e incentivo; a Dom Fernando José Penteado que me ensinou muito de justiça, de preocupação social e trato com os pobres; a Dom Mosé pela atenção, pelo respeito, por me ouvir e entender. A vocês ledores, minha gratidão eterna, pois a grande maioria de vocês, antes de ledores, são amigos queridos.

Virgem, isso já está virando tratado. Ainda aprendo a falar pouco. Fui.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

TEIMOSIA E CONCESSÕES

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Em 2010, resolvi não mais rezar missa no Santuário de Schöensatt, em Jacarezinho. Em 2013, resolvi que as atividades lúdico-sociais programadas para comemorarmos o dia do Sagrado Coração fossem canceladas. E jamais disse as razões.

No primeiro caso, voltei ao Santuário um ano depois para reencontrar uma querida amiga de São José da Boa Vista que para lá peregrinara. Algumas pessoas se assustaram quando me viram. Mas acabei, anos depois, rezando duas missas lá. Uma para os carismáticos da paróquia e outra por ocasião da visita da Imagem Peregrina original usada pelo Pozzobon. Concessões nada fáceis, mas ainda bem que feitas.

Quanto ao segundo caso, fiquei feliz quando dois bons amigos me ligaram dizendo: "Padre, o senhor pediu para não perguntar o motivo, mas senti que houve algo grave, e que o está fazendo sofrer. Conte comigo, com meu apoio, com aquilo que for preciso. Estamos juntos.". Não sei se eles lerão este texto, mas com aqueles telefonemas, sem saber, me ajudaram muito. Só Deus sabe a solidão que eu sentia naquela hora.

Bem... Às vezes fico me perguntando por que faço essas coisas. Abraço a responsabilidade e morro com ela se preciso for. Nos dois casos citados, por preferir ser julgado e condenado a criar divisões na comunidade. Na verdade tudo teria sido mais fácil se simplesmente eu tivesse continuado a rezar as missas no Santuário e deixado acontecer o jantar e o almoço programados. Todavia se assim o fizesse, teria sido infiel a mim mesmo e a meus princípios.

Enfim, nessas horas pareço um ditador, teimoso, firme, indobrável. Queria ser diferente. Talvez um dia seja. E neste dia, possivelmente eu não seja mais eu! Ledores, que complicação sou, não? Paciência. Que meus antigos paroquianos me perdoem, e que os futuros não passem pelo mesmo. O pior é que na verdade não sou tão ruim quanto, nessas horas, pareço.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

PÃO COM MANTEIGA

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Quem conviveu comigo nos idos de 2012 e 2013 deve conhecer algumas histórias de pão com manteiga. Bem, não há porque repeti-las aqui. Fato que é esses dias pus-me a pensar em tais situações.

Ter o que comer é uma dádiva da qual devemos sempre agradecer. Contudo reconheçamos que comer nem sempre é se alimentar, assim como matar a fome nem sempre é nutrir. Alguns privilegiados têm a possibilidade de optar entre essas coisas, outros não.

Bem, mas nem é disso que quero escrever, ou talvez nem saiba sobre o que quero fazê-lo. Fato é que em alguns momentos da nossa vida priorizamos algumas coisas tão pequenas. O tempo passa e descobrimos que coisas mais importantes ficaram pra trás. Isso é legal porque fica aparente nosso amadurecimento. E acabamos aos risos ou então corados quando pensamos "como pude ter sido tão infantil?".

Hehe. Acho que vou sempre brigar por pão com manteiga. Só não sei se o desejarei comer como fizera antes. Hoje escrevi nada com nada, né? Perdão ledores. Ainda hei de aprender a escrever coisas legais. Bjs no coração de todos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

MISTO QUENTE

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Incrível: num mesmo dia a gente vai do inferno ao céu, da morte à ressurreição. Exagerado, né? Não. É a mais tenra verdade.

Calma, ledores, vou explicar! Dias atrás, à tarde, uma reunião desesperadora, à noite, uma reunião instigadora. E por incrível que pareça, a pauta da segunda reunião era mais desafiadora que a da primeira, no entanto, muito mais satisfatória. E em ambas as discussões eu quase que apenas ouvi.

A segunda reunião era composta de gente super simples, alcoolistas em recuperação, sonhando organizar uma associação de bairro que lute por iluminação pública, biblioteca para os jovens terem outra opção aos botecos, um posto policial no bairro que limite a violência e uma unidade de saúde próxima às palafitas. Fiquei encantado com a boa vontade e a dedicação daquela gente.

Pois bem... É urgente  abandonar estruturas caducas e promover uma grande e existencial conversão pastoral no interior de nossas comunidades eclesiais. Discute-se horas a fio para decidir-se nada a respeito de coisas fúteis, deixando a promoção do Reino de Deus esquecida.

Ei, por favor, não estou nervoso, nem brabo, nem frustrado, nem nada afim, estou apenas escrevendo o que penso. Fui.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ZONA DE CONFORTO

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Hoje faz uma semana de minha primeira visita aos presos de Eirunepé. Pretendo estar lá todas as semanas possíveis. Acho interessante como as agentes da Pastoral Carcerária, a princípio, se assustaram com minha boa vontade imediata em acompanhá-las.

Eu entendo e não entendo. É tão comum se reclamar que o padre nunca aparece que quando ele se faz presente as pessoas acabam se assustando e se incomodando. Quando não isso, aproveitam a ocasião para reclamar de mil e uma coisas e não partilham ou aproveitam do que realmente seria importante. 

Também é mister reconhecer que não são muitos padres dispostos a esse tipo de trabalho. E não os critico, porque, como eles, também me vejo indisposto para estar com alguns movimentos eclesiais. Todavia tenho refletido sobre a importância de sairmos de nossas zonas de conforto.

Não é fácil ir à delegacia ou à escola ou ao comércio para evangelizar. A gente vai tranquilamente por outros motivos. Porém para falar de Jesus, os travamentos aparecem. Pregar dentro dos templos é comprometedor, é sério, é difícil, mas é cômodo. Ledores queridos, não falo isso no tocante apenas aos padres, aos leigos igualmente.

Oxê, acho que já escrevi demais por hoje. Melhor parar, né? Até breve. Abração.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

SEGREDOS

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A música diz "o que você faz quando, ninguém te vê fazendo, ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver". E mesmo não sendo eu um adepto da audição do Capital, sou fã desta canção.

Ando desconfiado de que boa parte dos segredos carregados pela gente são de interesse público tão insignificante, que se fossem conhecidos, diferença alguma se faria para nossa história, mesmo assim, preferimos manter tais informações veladas, sob sete chaves, pois são, de alguma forma, nosso tesouro ou nossa vergonha.

É, nem sei bem o porquê de eu estar escrevendo tais desnecessárias elucubrações. Não sou adepto de que se tenha a vida exposta para o conhecimento de todos. Pelo contrário, creio que a privacidade é nobre e sagrada.

Só manifesto aqui, queridos e fiéis ledores, tal pensamento, porque suspeito que, não raro, soframos protegendo em demasiado informações que não precisam ser divulgadas, mas cujo sigilo também dispensa tamanho consumo de energia.

Vivamos com liberdade e discrição, façamos o bem e sejamos felizes.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

HIPOCRISIA

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Confesso e não nego, irrito-me quando ouço premissas do tipo "eu conto o milagre, mas não conto o santo". E irrito-me porque me parece de uma hipocrisia muito grande acreditar que não se está fazendo fofoca e nem gerando intrigas quando esconde-se a origem de um fato, mesmo divulgando aos "quatros ventos" o tal fato.

Irrita-me também a infantilidade de se imaginar que problemas possam ser resolvidos assim, de forma velada. Incomodá-me que homens e mulheres adultos não tenham a hombridade de assumirem publicamente o que pensam. Mostram-se imaturos para, com respeito e coragem, se posicionarem, mas pelas costas, nos bastidores, criticam, sabotam e torcem para que as coisas deem errado.

Sim, frustro-me com essa gente que prefere sempre estar em cima do muro. Não querem praticar o mal, mas não o enfrentam, Têm medo de comprometer-se com a verdade. Querem estar de bem com todo mundo e, por isso, cruzam os braços para o crescimento pessoal e comunitário dos ambientes em que convivem.

Reconheço que há, sim, grande falta de conversão entre nós. Isso nos impossibilita de lidarmos bem com "nãos" e com ideias contrárias. O pior é lidar com os próprios erros. Claro que dói reconhecê-los. E é isso que nos barra, desconhecer a reação do outro ante a urgência de uma correção fraterna, a qual ouso definir como a caridade de dizer a alguém "venha cá, precisamos conversar".

Ledores, não estou brabo. E perdoem-me se o tom desta postagem pareça isso. Apenas transcrevo com sinceridade o que penso, embora tão poucas palavras não esgotem com perfeição o que realmente trago no coração.

Bjs.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

ETERNO EM MIM

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Queria compor novas canções. Por que não faço? Talvez falte tempo, ou rezar mais, ou maior dedicação, ou simplesmente inspiração. Quando compus minha primeira canção, lembrei-me da Ziza que, entre as cantoras católicas, é a que mais me agrada. Ela consegue, com quatro versos, tocar minha essência. Por isso, quando escrevi aqueles seis versos de "Viver pra adorar", acreditei que não precisasse mais. O fundamental seria cantá-los para o Senhor e, com eles, unir um coro que repetisse com a alma e o coração o desejo de fazer a vontade de Deus.

A música, na minha vida, tem uma dimensão única. Ela é e precisa ser, em mim, transcendência. Tem de comunicar mais do que eu possa ser. E necessita levar consigo mais do que uma letra, uma melodia, um som... Ela é entrega, é desnudamento, é a explosão de si que não destrói, mas gera, multiplica, cria.

Difícil entender, ledores? Mais difícil o é explicar. Explicito aqui, todavia, a razão pela qual repetidamente digo que uma voz e um instrumento podem ser o suficiente quando essa voz e esse instrumento estão carregados de amor, de sentimento, de unção. Não desprezo o talento, a técnica, a orquestração de sons e tempos devidamente arranjados e bem colocados. Apenas manifesto minha fé de que, sem Deus, o melhor do humano ainda fica aquém do lugar almejado.

Como pus Deus nesse post? Ele está em todos. Acho que falei nada com nada nesta postagem. Perdoem-me, ledores. Vou melhorar. Bem, hora de terminar, mesmo tendo muito ainda a dizer. Para aqueles que ainda não têm, no link abaixo é possível baixar minha música e usá-la para adorar a Deus. Grande abraço e até o texto da quarta feira. Conto com vocês!

Baixe "Viver pra adorar" (Pe. Vagner)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

PATERNIDADE

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Nossa cultura é muito injusta com o masculino. Nas missas que rezei este final de semana, mulheres iniciaram sua homenagem aos pais dizendo "sabemos que muitos pais deixam a desejar!". Incomodei-me, afinal há muitas mães que deixam a desejar também. O humano, por ser humano, sempre deixa a desejar em algum momento da vida.

Fato é que muitos filhos amam seus pais. Isso porque, com os limites de sua humanidade, souberam dar carinho, afeto e proteção a seus filhos. Não são poucos os que acompanham a gravidez da esposa ou companheira ou namorada ou ficante ou aventura de uma noite com grande dedicação. Muitos trabalham feito loucos para pagar escola, roupas, cursos, brinquedos, roupas, faculdade, para seus filhos. 

E no rol de pessoas em que há anos me vejo inserido, há aqueles pais que além disso já citado, ainda têm a preocupação diária de ensinar o amor e o temor a Deus, o serviço e a participação eclesial, a moralidade de uma vida que respeita os princípios da honestidade e da santidade.

Enfim, minha vocação é outra. Não sei o que é ser pai, e por isso imagino a alegria de ter alguém que nasceu de si. E suspeito ser impossível medir a emoção de ouvir  a palavra "pai" sair dos lábios de uma criança. Vê-la dar os primeiros passos e alcançar seu espaço na vida familiar, estudantil, profissional e social. E a alegria dos netos, bisnetos, tataranetos, tetranetos... Estou indo longe já, né? Perdão, caros ledores.

Bom. Sei lá entende? Feliz dia dos pais, rapaziada.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

FATHER AND SON

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Igreja Matriz de São Francisco - Eirunepé (AM)
Alguns dizem que a Palavra Eirunepé significa "sangue de barata". Há também quem afirma significar "pai e filho". A mim, parece que esta última definição seja mais provável. Mas reconheço não saber e nem ter fontes para avalizar qualquer uma delas. O povo tem sido bastante acolhedor. E manifesta uma piedade cristã muito bonita, simples e cabocla.

Agora, se os seis meses de Feijó me fizeram perceber o quanto o Brasil é grande e diferente em costumes, linguagem e opções, cinquenta minutos de voo de lá pra cá ampliaram ainda mais essa percepção.

Os desafios de adaptação vividos lá se repetem aqui. O mais divertido é que como lá ninguém entendia tais dificuldades, aqui também não. E desvela-se ante meus olhos a importante necessidade de finalmente entender que essa luta deve ser travada por mim e por mais ninguém, sempre na graça de Deus.

Estátua de São Francisco - 15 metros de altura
Eirunepe (AM)
Eu é que preciso aceitar, aprender, acolher, me moldar à nova realidade. Ou seja, o difícil não é o Acre ou o Amazonas, Feijó ou Eirunepé, o difícil sou eu e tudo fica fácil se eu me tornar fácil, dócil e próximo. Que Deus me ajude.

Porém, para instigá-los um pouquinhos, amigos ledores, que tal vocês meditarem um pouco, distinguindo em sua vida, quais as situações em que o difícil não está no outro, mas em você mesmo? Apesar de certa bondade ou maldade nos fatos em si, é o modo como os encaramos que os tornam amenos ou doídos!


Mas que fique registrado e ninguém duvide:
sair da própria terra para servir a Deus é bom demais!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

NIVER'S

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Ontem fez oito anos da minha ordenação sacerdotal e sete anos do falecimento de minha mãe. Como sou novo na paróquia, essas datas passaram desapercebidas. E isso é muito bom.

Sempre penso em como as coisas mudam. Ano antes: riso, expectativa e realizações. Ano depois: choro, tristeza e silêncio. Pra mim foi como uma nova ordenação. Precisei ser humano para sentir, sofrer, chorar. Precisei ser cristão para enfrentar, aceitar e crer na vida eterna. Precisei ser Sacerdote para pregar a Palavra e celebrar o dom da vida na Eucaristia, mesmo na hora da dor e do luto. O padre é isso: homem que crê e serve.

Sou grato a Deus pela vida de todos os que estiveram ao meu lado em ambas as situações. Pelos que vibraram com minha conquista em 2006 e pelos que sentiram minha perda em 2007. Em ambos os momentos Deus me moldou e fortaleceu a minha fé. Reconheci a misericórdia de Deus que me fez padre mesmo eu sendo desmerecedor. Reconheci a misericórdia de Deus que me fez forte, sereno e profeta quando eu poderia justamente esmorecer e cair.

No mais, para aqueles que já viveram grandes conquistas e também grandes perdas como eu, deixo meu abraço empático e digo aquilo que na minha vida serviu e continua servindo: espere e confie em Deus, mesmo na hora do sofrimento, Ele não nos decepciona. Amemo-lO sempre, pois "tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus".


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

DIA DO PADRE

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"O padre é dispensador das graças de Deus" (Domingos Gonzaga)

A Igreja comemora no primeiro domingo de Agosto o Dia do Padre. Para mim, quem é o padre? Um homem chamado por Deus para um ministério distinto na comunidade cristã. É aquele que deve dedicar-se de modo especial à santificação do povo de Deus. Tem o dever de ensinar a verdade que corrige o erro moral e motiva à prática do bem. Deve presidir os sacramentos de forma a serem celebrações de salvação que comunicam a graça de Deus. Deve promover a comunhão, acolhendo, amando e perdoando a todas as pessoas. Isso tudo de modo que seu "eu", sempre presente, aponte para o Cristo. Pois este sim deve ser conhecido, amado, adorado, seguido e testemunhado.

Ser padre é bom, é gostoso, é uma aventura! Ser padre é poder sair ao encontro de todos, levando um tesouro que é todo seu, embora não seja realmente seu. É ter autoridade para dizer que a vida tem sentido. É poder dispor-se de tudo, inclusive de si mesmo, para livremente pertencer a Deus, ao Reino, ao povo. É crer, celebrar, testemunhar.

Confesso, no entanto, que a importância dada ao padre parece-me, em alguns lugares e momentos, distorcida. De que distorção falo? Bem, o padre é um servidor da comunidade e só tem razão seu ministério se assim o for. Não pode ter sua função confundida com nobreza, honrarias ou privilégios. Porém, também não pode ser confundido com um funcionário de que o patrão seja  todo mundo. E infelizmente carrego comigo a experiência de ambas as posições descritas!

De alguma forma misteriosa o sacerdote precisa tornar-se amigo e companheiro de jornada da comunidade que pastoreia. Precisa amar e ser amado no ágape cristão. Respeitado como homem, como líder, como religioso, e como irmão em Cristo Jesus. Aff... Texto chato, né? Vou tentar melhor, galera. Abração.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

VERDADES E MENTIRAS

eNTÃO...

Hoje é o dia da minha partida de Feijó-AC para Eirunepé-AM. Estou tranquilo. Sereno. E, posso dizer, feliz. Meus primeiros seis meses nesta diocese foram marcados, sim, por desafios que não esperava. Talvez não estivesse preparado para voltar a morar com outros padres. Talvez a paróquia não estivesse preparada para ter três padres. Porém, essas coisas foram superadas aos poucos. Eu não esperava a dificuldade para adaptar-me à cozinha acriana. Dificuldade que, seis meses depois, confesso não saber se um dia me vencerei. Comunicar-me foi e está sendo uma das dimensões mais desafiadoras. Eu, tão acostumado a dizer com precisão o que pensava, descubro que a tal precisão deixa de ser precisa se mudo de ambiente e de cultura. Bem, é verdade, ledores, que isso não me deveria ser uma descoberta, mas foi.

Do meu jeito, até que trabalhei bastante. Meu foco era organizar a administração paroquial e incentivar a união entre as seis comunidades que formam a paróquia. Muita coisa ficou por fazer, e reconheçamos que, mesmo que eu ficasse por aqui dez anos, ainda assim, alguma coisa ficaria por fazer... Muitos passos foram dados. E, por mais que pareça frio, sem qualquer falsa modéstia, penso que os passos dados não são méritos meus. Foram dados por leigos cheios de boa vontade. Cada qual em seu espaço e em sua competência, conseguiu levar adiante projetos importantes. Foi assim com a rearticulação dos músicos, com a promoção da pastoral do dízimo, com a transparência das contas das comunidades, com as visitas missionárias na zona rural, com a formação dos conselhos comunitários e paroquial, com o gás dos coroinhas. Tudo o que fiz foi tentar estar junto.

Cometi muitos erros. Arrependo-me. Espero não recair neles no futuro, mas sei que continuarei errando a vida toda: sou humano e tenho muito o que aprender. Meu consolo é que meus erros, não todos, mas a maioria, foram tentando acertar. Isso não os torna menos desnecessários, mas apazígua meu coração. Ademais, torci para que a comunidade crescesse.

Creio que este texto, em comparação aos anteriores, fuja um pouco do tamanho, ritmo reflexivo e do meu estilo pessoal de dizer nas entrelinhas, deixando sempre algo velado. Por isso, quero justificá-lo. Um de meus muitos sobrinhos me relatou essa semana que se fala por lá que estou triste por aqui e que quero voltar embora. Resolvi então colocar nesta postagem apreciações bem diretas, carregadas de minhas avaliações do itinerário de minha vida.

Não estou triste. Quero voltar embora quando terminar o tempo ao qual me propus ficar aqui. Sempre disse que seria o mínimo de um ano e o máximo de dois. Quem me conhece sabe o quanto me é sério levar a cabo minha palavra proferida. Sobre a transferência de Feijó para Eirunepé, ainda quando estava no Paraná, já a anunciava. Ela me fora predita em novembro do ano passado. Não me surpreende e nem me assusta.

No mais, tenho sim saudade dos meus irmãos e seus cônjuges, dos sobrinhos. Tenho saudade do Paraná, dos amigos de São José da Boa Vista, da Barra do Jacaré, de Andirá, de Bandeirantes, de Ribeirão Claro, de Jacarezinho e tantos outros lugares. Sinto falta dos padres da minha diocese. Sinto falta do tempero paranaense! Sinto falta dos meus cd's e dos meus dvd's. Sinto falta de lecionar. Sinto falta das idas ao cinema em Londrina. Ah... Sinto falta da academia. Mas hoje meu lugar aqui. E minha alegria é a certeza de estar onde Deus me quer. 

Ledores, perdão pela extensão e pelo pseudo desabafo, prometo que os próximos textos voltarão ao estilo habitual. Não desistam de acompanhar minhas postagens, por favor. Vocês já fazem parte de minha simples e pueril vida. Grande abraço.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

PÉS E FÉ!

eNTÃO...


Os desígnios divinos são insondáveis. Quem me conheceu na infância ou na adolescência não preveria jamais as aventuras acrianas. Talvez até duvidasse se algum bom inventador de estórias as predissesse. E embora tenham sido poucas minhas saídas com essa galerinha da foto, vivemos emoções únicas na minha vida.

Em uma de nossas viagens, já na hora de embarcar para o retorno, vi-me com os pés enlameados. O rio havia baixado durante a noite e aproximar-se do casco exigia meter os pés no barreiro. Consequência óbvia é que antes de subir na canoa lavaríamos os pés. Sentei-me na borda do barco e comecei a lavar os meus. De repente um desses irmãos, estando dentro do rio, me disse "padre, dê licença!" e mais que depressa passou a limpar-me os pés.

Gesto simples, mas que mexeu profundamente com meus sentimentos. Naquele momento, ter meus pés lavados de forma tão fraterna e servil abriu-me dois campos de reflexão que me "atormentaram", em bom sentido, por dias.

Primeiro... Não sou deste mundo de banhos no rio, lamaçais, viagens de canoa, carne de caça e afins. Esforço-me para lidar bem com isso, contudo nem sempre consigo. E aquela ação de tão rapidamente por-se a lavar-me os pés fez-me pensar "será que nem isso consigo fazer de modo tranquilo sem que alguém sinta a necessidade de ajudar-me, de proteger-me?". É, certo complexo de inferioridade há muito superado quis retornar das cinzas, desestabilizando-me.

Segundo... Eu não teria dificuldade alguma de fazer o mesmo por alguém. Entretanto, conhecendo tanta gente quanto conheço, suspeito não ser comum lavar os pés de outrem. Para tal é preciso que o lavador tenha fé, despojamento e humanidade. Ao lavado, é preciso ser, de alguma forma, estimado. Esses truísmos tão pessoais me alegram sim, e me incomodam também.

Penso que poderia escrever um grande capítulo sobre minha leitura de tal fato, mas para um blog, este texto já está grande demais. Então, preciso terminar deixando o saldo que carrego daquele dia: Jesus muda a vida das pessoas. Mudou a minha e mudou a desses homens também. Complexos e questionamentos levarei comigo sempre, indiferente deles, porém, o real é que em nossas viagens missionárias fizemos a experiência de uma irmandade que supera vínculos de sangue e que se firma no desejo de servir a Deus, apesar de nossas limitações. 

Nem eu e nem algum deles é santo hoje. Talvez o sejamos no futuro - creio não tão próximo! Temos defeitos e muitos. Mas estamos por aqui tentando acertar a cada dia. Deus nos ajude.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

RITOS DE PASSAGEM

eNTÃO...

"... mas é muito bom saber que em Feijó você tem amigos!"
(Versos cantados na 1ª Confraternização dos Músicos de Feijó)

Há pouco mais de seis meses me despedi da paróquia em Jacarezinho. Agora estou me despedindo da paróquia em Feijó. Era pra ser bem diferente, mas algumas coisas se repetem e não consigo entendê-las. Bem, esse é outro assunto, ledores? Por favor, perdoem-me esta tão imediata divagação.

Vamos lá. É comum que as sociedades estabeleçam ritos de passagem para marcar mudanças sociais, familiares, históricas, ou mesmo ontológicas (no caso religioso). Tais ritos, tão diferentes nas diferentes culturas, amiúde exigem discursos, lágrimas e festas. É o despedir-se de uma realidade para inserir-se noutra. Mudança supõe medo, readequações e, talvez, distância! Não mais se verá, não mais se ouvirá, e os passos juntos tornar-se-ão passos a sós.

A certeza do incerto faz com se celebre o que há, findando ritualmente sua existência, em preparação para aquilo que vem. Os ritos também têm a função de agradecer pelo que se está prestes a findar, e buscar bons presságios para a nova realidade que se está para começar. Para isso vale abraçar, dizer pública ou pessoalmente de sentimentos bem guardados. Vale dar um presentinho. E a comensalidade faz parte.

É o momento em que descobrimos a real importância de pessoas, costumes, lugares e coisas na nossa vida. Fica a sensação de que deveríamos ter amado mais? O importante é que amamos! E que sigamos amando...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

SONHOS ROUBADOS

eNTÃO...



Amores... São tantos, não? Amamos coisas, pessoas, lugares, situações, hábitos, privilégios, etc, etc, etc. Muitos desses amores entram em algum momento em nossa vida, e ficam para sempre, ou, por alguma razão, se vão.

Mas nesta hora em que escrevo, recordo-me da fala de Jesus: "não é possível servir a dois senhores..." Bem, quando amamos, o objeto de nosso amor é quase sempre um senhor em nossa vida. E se esses senhores entram em conflito, é o nosso arbítrio que terá a responsabilidade de colocar cada amor em seu lugar. Um subirá ao pódio e o outro, se não eliminado, perderá muito de seu espaço.

Talvez alguns desses amores, embora contraditórios, até consigam conviver bem. Não nos enganemos, só parecem consegui-lo porque nós não nos permitimos um confronto com eles. Bom, uma hora isso será inevitável.

Ledores, confesso não saber bem ao certo como terminar este texto. Talvez isso se dê pelo fato de que amores, aparentemente, não são feitos para ter fim. Nunca esperamos que aqueles ou aquilo de que gostamos se apartem de nós. Bom, uma hora isso será inevitável também.

Desta finitude tão presente, aprendo a cada dia a importância de amar em atitudes, perdoar de coração e de reconciliar constantemente. Carregar as agruras de um silêncio não mais rompível deve ser o pior de todos os castigos.

Deus nos livre disso. Amém.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

SEGUNDAS INTENÇÕES

eNTÃO...

Dizem que de boas intenções o inferno está cheio. Nem posso concordar ou discordar. Não sei quantos estão no inferno, aliás, até prefiro desconhecer tal quantia. Tenho pensando em como estamos constantemente caçando as intenções escondidas nas atitudes daqueles que nos cercam. Pior é que, com frequência, esperamos encontrar, quando não má, ao menos uma dúbia intenção em tais circunstâncias.

Um padre que, de repente, decide deixar seu estado e ir colaborar com a Igreja em outro estado, será facilmente compreendido se esse outro estado for Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro. Mas se é o Acre, alguma coisa tem de existir. E uma pulga se coloca atrás de muitas orelhas. Não poderia o tal padre simplesmente querer fazer missão? E o engraçado é que a incógnita não atormenta só aos pseudo matemáticos do sul. Os do noroeste também acabam acometidos pela questão: "por que veio afinal?".

Bem... A história do padre é pura fábula. Imaginação minha! Mas no campo da realidade, quando alguém: nos dá um presente, nos elogia, nos abraça... quando alguém se atrasa, se ausenta, se cala ou então muda de assunto... Enfim, se esse ente imaginário que estamos chamando de "outro" foge do padrão esperado por nós, e reage distintamente daquilo que a princípio nos agradaria, não partimos em busca de intenções para tais imprevistos?

É ledores, eu creio que partamos sim. E seria tão mais fácil se entendêssemos tais situações com naturalidade. Às vezes houve um imprevisto que justifique atraso e ausência. No mais, somos forçados a admitir que há assuntos dos quais não queremos falar e prefiramos não ouvir. 

Confesso e não nego que talvez este texto não diga muito. Mas reconheço que gostaria de ser mais compreensível e de não ver rejeição como pano de fundo, ou melhor, como segunda intenção nas atitudes de outrem. Afinal, tão pouco rejeito e tantos paradigmas quebro!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

FERIDAS

eNTÃO...




Incrível como algumas situações, por mais que já se tenham passado há tempo, ainda entristecem, chocam, machucam a gente. Pego-me sofrendo, às vezes, por coisas que desconfio ninguém mais se lembrar.

Palavras ditas ou ouvidas, escritas ou lidas. Situações constrangedoras. Desrespeitos. Incompreensões. Negações ou imposições. Tais momentos conseguem infringir em nós feridas de cicatrização lenta. Chagas que podem doer toda uma vida, acompanhando-nos até a hora da morte.

E por mais que a gente amadureça, que entenda tais situações e até perdoe as pessoas envolvidas em muitas delas, isso nem sempre é o suficiente para fazer cessar a dor. E como disse Marília Gabriela entrevistando Adriane Galisteu "lidar com a rejeição é coisa complicada demais, anos de terapia nem sempre resolvem!". Concordo com ela.

Bem, a nós que somos cristãos, resta buscar a serenidade em Deus e nele encontrar o equilíbrio para lidar com essas dores.O fato de tais feridas estarem em nós não significa que possam controlar nosso comportamentoNenhuma delas nos faça amargurados, abatidos ou intragáveis. 

Deus nos ajude. Amém.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

NOSTALGIA

eNTÃO...


Tenho usado parte do meu tempo livre procurando antigos colegas de ginásio e de ensino médio no facebook. Chamo esse momento de "crise dos 35". Sinto necessidade de olhar para trás e de valorizar momentos e pessoas que marcaram minha vida. Saber como estão, o que fazem, onde vivem... 

Suspeito que parte deste sentimento provenha da experiência da distância. Sair do Paraná para tão longe tem me forçado a olhar para trás. E claro que a idade que avança também me impõe a constante e tétrica sensação de que a morte se aproxima na mesma medida em que a vida de esvai. Por favor, não se engane. Não estou pra baixo, muito menos infeliz. 

A vida é feita de parcerias. Sempre há alguém conosco fazendo alguma coisa. Seja turma de escola, de trabalho, de igreja, ou de família. Não somos sós. E tais pessoas de algum modo nos acolhem, nos guardam, nos integram. E nós fazemos o mesmo com elas. O cruel é perceber que amiúde tais relações nos passam despercebidas. Guardamos os mais chegados como amigos indispensáveis e relegamos os outros ao status de colega. No fim, o tempo passa e mesmo os indispensáveis acabam tomando outro rumo. Raramente alguém permanece a vida toda ao nosso lado.

Claro que também há rejeições, nem tudo na vida é acolhimento. Mas disso falaremos outra hora. Por hoje, convido-os, ledores queridos, a pensar em todo bem já recebido de pessoas que já não estão por perto. Que tal agradecer a Deus pela vida dessas pessoas? É o que mais tenho feito.

Até breve.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

MALAS E MEIAS...

eNTÃO...


Este é meu ano de mudanças. Um mês em Andirá(PR). Seis meses em Feijó(Ac). E em breve me mudarei para Eirunepé(Am). Já começo a pensar nas malas que precisam ser feitas. Mais que mudar de endereço, mudo de vida, sem mudar de vida. Continuo eu: rezando missa, crendo no Reino e fazendo aquelas minhas pregações.

Mudo ao conhecer um Brasil bem maior do que aquele do mapa e cresço ao descobrir um mundo tão multifacetado dentro do meu próprio país.


Isso me faz pensar em como a vida é linda e os desígnios de Deus são perfeitos. Ninguém, nem mesmo eu, entendeu os motivos que me fizeram escolher um tempo exilado na Amazônia. Só o céu responderá!

Assim, não há palavras inteiras que expliquem o hoje. Menores ainda seriam palavras que intentassem desenhar a realidade futura. Cabe-nos assumir nossa responsabilidade em cada uma das decisões tomadas e permitir que Deus providencie a realização de sua divina vontade entre nós.

Assim confesso, assim desejo, assim espero!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

DISTÂNCIA

eNTÃO...


Mais de um ano depois de minha última postagem neste blog, eis-me aqui. Já há dias venho pensando no significado da palavra distância. Ela pode simplesmente representar o espaço existente entre duas coisas, filosoficamente falando, ou se preferirmos o campo da física, dois corpos.

Mas esse espaço, ou seja, esta distância, ela pode ser medida como? Com medidas de comprimento,de metros a anos-luz. Ou então com medidas de tempo, de minutos a milênios. Mas há uma dimensão nesta coisa de distância que tem me incomodado. Como medir o espaço se as coisas não forem corpos, mas forem almas?

É, ledores queridos, às vezes tenho a impressão de que algumas pessoas que fisicamente estão tão distantes, ao mesmo tempo estão por aqui, no meu coração, na minha mente, nas minhas preocupações, no meu afeto. Também há aquelas de cuja distância é mínima hoje, e que aos poucos estão conquistando um espaço em mim e, por conta disso, talvez jamais eu as possa libertar de mim.

Fica aqui, neste meu displicente e barato retorno, a proposta de que você que reflita sobre as distâncias da vida. Para isso, encontre um canto silente, e deixe a voz do céu falar com seu coração. Há proximidade na distância e, não raro, há distância na proximidade.