quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

AMORES E AMORES ... ... ...

eNTÃO...

Ontem, percorrendo estradas acrianas, um bom papo fez-me a alma viajar pelo tempo até os dias da criação e do pecado original, contemplando as consequências iniciais daquilo que chamo amor. Formados do pó da terra, animados pelo hálito de Deus, presenteados com o Éden e devidamente orientados sobres os riscos de suas decisões, Adão e Eva puderam, não só escolher, como praticar o pecado.

Um intervenção externa impediria essa infelicidade? Quiçá sim. Todavia Deus não interferiu. Omissão? Descaso? Desconhecimento? Simplesmente amor! O sublime "sentimento" não cerceia, não oprime, não domina, não impõe. Assim é que é.

Estranho o modo como algumas pessoas creem ser donas de outras. Fiscalizam. Sondam. Adivinham pensamentos. Exigem senhas de celular e de redes sociais. E se desesperam, perdendo o rumo da vida, em insanas teorias de conspiração. Ciúme sem origem em afetividade e sim em possessão distancia-nos do testemunho de amor do Criador, o qual, por sinal, sente ciúmes de suas criaturas, sem, contudo, tirar-lhes a liberdade.

Quem ama cuida, protege, não quer perder... Para isso, busca, sem subserviências, cativar e recativar a cada dia. Dar-se, sem humilhações, para realizar-se no encontro com o outro que, sabendo acolher no mesmo amor, retribui gratuitamente. Utopia romântica? Talvez seja na possibilidade de vivência perfeita, mas não na construção diária de uma relação maior e melhor.

Oxalá 2016 nos proporcione isso em todos os níveis interpessoais: familiares, fraternos, passionais, etc... Ledores, não sabendo bem como findar o último texto do ano, resolvi eleger um retrato que me diga algo de 2015. Feliz ano pra todos. Bjs.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

INEFABILIDADE...

eNTÃO...



Ledores, perdão pelo silêncio destas últimas semanas. Meu álibi é o de sempre: o tempo está escasso. Ontem pensava sobre o processo de bota fora. Embora tendo planejado despedir-me no aeroporto de Cruzeiro do Sul, tudo se encaminhou para que eu percorresse as estradas do estado, passando dois dias por Feijó.

Em 2004, em uma missa de despedida, me fizeram chorar ao dizer que, segundo a bíblia, a terra pisada por um homem de Deus é-lhe dada pelo Senhor. Alguns solos amazônidos muito sagrados tornaram-se meus. E surpreendi-me com isso.

Vivo a descoberta do quanto o que nos é simples e, às vezes, até conscientemente devido, pode ser importante e marcante para outrem. De repente a gente ouve "não há palavras para agradecer tudo o que fez por mim" e se pergunta "mas o que foi que eu fiz?". E nada de pessoalmente extraordinário se apresenta. Fica o silêncio, a dúvida que não maltrata e nem inquieta, mas traz serenidade e solidão.

Sim, solidão. Não no sentido negativo da palavra, se é que possua algum sentido positivo. Creio que este "estar só" desenhe, ainda que imperfeitamente, o sentimento de ser de todos e não ter alguém.

Atenção, ledores e ledoras, não me refiro a qualquer espécie de relação passional. Com melhores palavras: o caminho a percorrer está povoado de pessoas, a força da missão, contudo, faz seguir em frente, encontrando amiúde novas gentes e as deixando também.

O melhor é acreditar que ninguém fica por completo pra traz, assim como nunca levamos tudo de nós adiante. Fica algo, na devida proporção daquilo que levamos. Enfim, estou estranho, mas em paz. Esperançoso e temeroso ao mesmo tempo. Feliz e saudoso. Miscelânea de sentimentos? Pois é, assim sou eu, muito prazer.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

SONHOS, MEMÓRIAS, TEMORES

eNTÃO...

Ledores, na noite de sábado para domingo, tive um sonho simples e estranho. Éramos três em minha fantasia onírica: alguém de quem não me lembro, um antigo colega de turma no seminário e eu. Falávamos sobre mudas de plantas, ele, o colega, conseguira de uma semente, uma planta de dois caules, algo extremamente raro no tipo de árvores que estávamos cultivando. Depois disso, falou sobre o irmão, supostamente residindo no Rio de Janeiro. E finalmente acordei, de madrugada, assustado e com certa ansiedade. Isso porque a sensação, ao despertar, era a de que ele tivesse morrido.

Não costumo me lembrar das cenas visualizadas quando durmo. Nem curto escrever ou falar sobre isso. Menos ainda me interesso por interpretações de sonhos. Creio que o futuro a Deus pertença, cabe-nos cuidar do presente, com boa consciência e sendo nós mesmos. No entanto, fiquei curioso perguntando-me porque tal situação fez-me ver no diálogo um momento de despedida tão intensa como o adeus forçado pela morte. Suspeito de algumas razões.

O que mais me impressionou, porém, foi o fato de o sonho ter-me levado a algumas conclusões fatalistas. A primeira delas é o reconhecer que algumas pessoas nunca crescem. Refiro-me a comportamentos que, por mais que sejam mostrados, falados, exemplificados, os indivíduos não conseguiam ver, ou finjam não ver, e sob este pretexto, continuem a reproduzi-los. Parecer o que não se é? Transformar pessoas em troféus? Já nem sei se infantilidade ou carência afetiva em extremo. Talvez seja eu que já não cresça...

Como lidar com isso? Com os sonhos, pôr os pés no chão, acalmar o coração e reconhecer que não passou de ilusão. Com a realidade, apesar dos temores daquilo que ainda está por vir, permitir-se viver, buscando maturidade e tentando aprender a lidar com o todo ao redor. E isto não é fácil, afinal, quão difícil somos nós. Ou melhor, quão difícil sou eu. Paciência, ledores, "muita 'hora' nesta 'calma'".

Grande abraço. Até breve, se Deus quiser.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

AUTO-HUMILHAÇÕES ???

eNTÃO...

Ledores, hoje me peguei a pensar no estado de espírito que possa levar uma pessoa a mendigar por sentimentos claramente negados por outrem. E me senti mal só de imaginar o grau de carência interior que leva a isso. Implorar um carinho, ainda que verbal, ser-me-ia humilhação demais. Não posso vaticinar a impossibilidade de acontecer, mas confesso, sem arrogância, que a improbabilidade é enorme.

Amor próprio é algo de que não se pode abrir mão. Autoestima também. Claro que tais valores não são tão gratuitos quanto pareçam. Creio que sejam, na verdade, construídos historicamente a partir da interação entre a personalidade inata e os relacionamentos diários com família e sociedade. Quem desde sempre se sente amado tende a desenvolver uma segurança maior de si, para si e consigo mesmo ao longo da vida. Já quem, desde os primórdios da vida, experiencia rejeição, tende a carregar tais marcas pelo resto da vida.

Devido a tais conclusões, fico ainda pior diante de gente que disfarçadamente joga com as palavras em busca de fisgar um ato falho que lhe permita deduzir o afeto almejado. A verdade é o que é, e é evidente em si mesma. E por mais que doa, há momentos em que só nos resta aceitar a realidade como ela é, aprendendo a com ela conviver, e sendo feliz desta forma. Murro em ponta de faca, até quando? Pra quê? Pelo simples fato de sermos seres humanos merecemos bem mais do que isso.

Enfim, amados e fiéis ledores, como sempre termino consentindo com a cruel afirmação de não saber exatamente sobre o que escrevo e porque o escrevo. Paciência. Um dia, talvez, quem sabe, minhas loucurações sejam-nos desvendadas. 

Beijo no coração de todos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

"LOUCURAÇÕES" MISTERIOSAS

eNTÃO...

Decidi escrever, mesmo sem ter assunto. Que coisa, não? Saibam, ledores, algumas vezes, queremos dizer, noutras, simplesmente, nos satisfaz calar. Por isso se nos torna sempre necessário ter nossos refúgios, aqueles lugares onde se pode falar com confiança livre e também aqueles onde o silêncio não é questionado e nem desafiado.

Na infindável realidade que é nosso mundo interior, há anseios por ambas situações. E embora exista quem seja sempre calado ou que nunca se aquiete, ouso acreditar que, respeitando tais exceções, o humano precisa guardar sua intimidade, sem jamais se deixar prender ou escravizar por ela.

Segredos demais fazem mal. E quando são muitos, geralmente, a maioria é desnecessária. Longe de mim defender a abertura total e plena da vida pessoal e dos fatos que a colorem, apenas imagino que quanto mais leve for o modo de lidar consigo mesmo e com suas coisas, mais tranquila residirá a alma no corpo.

Mais do que não ter o que esconder, melhor será sempre saber lidar com o que aquilo que guardamos no mais íntimo de nós. Mais do que temer a verdade revelada, temamos a mentira crida. E que no dia em que a luz de Deus projetar-se sobre nós, revelando-nos a nós mesmos, a surpresa não nos seja inesperadamente negativa. Amém.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

RECONHECIMENTO, SÓ ISSO

eNTÃO...


Marechal Thaumaturgo - Ac - Dezembro/2015
Às vezes me pego pensando nas inter-relações que se estabelecem em nossa história. Sim, ledores, é um assunto recorrente em minhas postagem. Infelizmente meu cabedal de assuntos e minha capacidade redacional não é das melhores. Perdoem-me as limitações. Feita minha confissão, voltemos ao principal.

De repente se chega a uma cidade onde se conhece ninguém. Aos poucos as pessoas nos vão acolhendo e, naturalmente, estabelecemos afeições especiais com algumas delas. Na maioria das vezes sem qualquer razão matematicamente explicável, encontramos pais, mães, irmãos e até filhos que, não tendo nosso sangue, parecem ser nossa família. Essa gente cuida de nós, e nós cuidamos delas. A permuta de carinho aí nascida teria em teorias psicológicas o rótulo de "comerciais", ou seja, motivadas por interesses e necessidades mútuas. Mas para os que a vivemos, é apenas um encontro com a felicidade.



E por que não chamar de felicidade o momento mágico em que percebemos que não só amamos, mas somos igualmente amados. Que sentido maior encontraríamos em viver sem essa transcendente capacidade de acolher e ser acolhido, não apenas em cômodos, mas em corações? 

Melhor ainda é saber que a linha que costura tais encontros, embora destinados a despedidas próximas, é a fé naquele que é O Transcendente por excelência, A Fonte do Amor. De tal modo que o pano de fundo presente em cada sorriso de encontro e em cada lágrima de adeus será sempre a construção do Reino de Deus. Por ele e só por ele, "sem cachaça e sem pinga", é que se me multiplicam os conhecidos, os amigos e as famílias adotivas.

No fim, reconheço entender nada do que acabo de escrever. Sei que as coisas são como são, não o porquê de serem. Se Ele quiser, um dia nos explique. Em todos os casos, "seja feita sempre a Sua vontade".



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

INTERIORES

eNTÃO...

Uma senhora de pouco mais de trinta anos faleceu hoje em Marechal Thaumaturgo, interior do Acre, última cidade do Juruá antes da divisa com o Peru. Razão? Uma espinha de peixe parou-se-lhe na garganta. Acontece? Sim e não. Creio que "engasgar" seja enfermidade de diagnóstico fácil. Ficar quatro dias no hospital com a espinha na goela, sem que se consiga retirá-la já me parece fora da realidade tecnológica dos nossos tempos. Não tendo mais recursos locais, a família paga um aviãozinho para levar a mãe e esposa para um centro maior, Cruzeiro do Sul. E o que lá acontece? Não retiram a espinha, mas a empurram mais para dentro. Com isso, cerca de dez dias depois de degustado o bendito peixe, a senhora faleceu. 

Ledores, morrer faz parte e não se pode fugir disso. Que a medicina tenha seus limites e que um deles seja a incapacidade de salvar sempre e de salvar para sempre é um truísmo que devemos aceitar. Porém ainda me choca, vinte e um meses depois, que comunidades grandes, e mesmo pequenas, no interior do Brasil, possam estar tão relegados aos isolamento. Circunstâncias geográficas e escassez de recursos são desculpas aceitáveis, todavia não satisfatórias. Pois se somam àquela que, na minha opinião de cidadão, é a mais grave e mais presente: o descaso governamental.

Primeiro prefeitos que nunca são vistos na cidade. Depois vereadores que se interessam nada por políticas públicas. Tudo isso agravado por dois fatores culturais arraigados fortemente na sociedade local: a resignação que suscita o pior de todos os argumentos ouvidos "sempre foi assim, tem jeito não"; e a corrupção dos eleitores que troca seu foto por pequenos favores e grandes promessas. Explico: pequenos favores seriam sacolões, um caixa de remédios, uma conta de luz paga e congêneres; grandes promessas se encontram na esperança de um emprego, de assumir uma secretaria, de ter salário garantido e algum status social.

Dentro desse esquema, a ordem primeira para quem está no poder é enriquecer e gozar a vida. Órgãos fiscalizadores ficam distantes, nas capitais. Assim, nos interiores, postos e hospitais nunca têm remédios. O tráfego se dá desviando dos buracos, quando não atolando na lama. Alunos estudam numa mesma escola, mas cada turma numa casa alugada em diferentes pontos da cidade. Água tratada? Difícil. Saneamento? Cada um que tenha nos fundos do quintal uma casinha onde depositar seu estrume humano. Acesso: horas num barco ou fortunas num "teco-teco". Comunicação? Rezando para o sinal de telefonia não desaparecer de repente.

Não ledores, a Amazônia brasileira não é assim pra todos e nem em todos os lugares. É assim com os pobres, que são a maioria. É assim com aqueles que moram mais distantes. Mas o que mesmo está perto daqui? Ao menos nossos olhos e corações cristãos lembrem-se com carinho e preocupação deste lugar. Aqui, além de árvores e animais carentes de preservação, também temos gente precisando de dignidade e respeito, educação e cuidado.

Por fim, tal postagem não é desabafo ou algo similar. É apenas produto de um sentimento sem explicação. Deus tenha misericórdia deste mundo tão cheio de pecado. Amém.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

SOBRE NOSSOS PAIS

eNTÃO...

O tempo passa. Os filhos crescem e os pais "encolhem". Sim, quando eu fora pequeno, meus pais, grandes, fortes, gordos. Em meu mundo de fantasia, podiam tudo. Sabiam tudo.

Depois, cresci um pouquinho. Eles continuavam grandes, fortes, mas já não me pareciam saber tudo. Nalguns conflituosos momentos, acreditei saber bem mais que eles. Mais uns anos, o grande e o forte fizeram-se adjetivos meus. Para eles, frágeis, idosos, enfermos, magros. E relutantes em aceitar a verdade, pois mesmo me vendo homem feito, insistiam em me aconselhar, proteger, acarinhar.

Implacável, o tempo os levou. Justo, o tempo está me levando também. Ou melhor: ledores, o tempo está nos levando. Horas há em que já nem sei estar crescendo ou encolhendo. Se a mente e o espírito abrem asas em busca de vôos mais altos, o corpo já não tem a disposição de outrora. Os cabelos caem, a vista enfraquece e as pernas já não correm com tanta agilidade. E o tempo? Bem, ele continua indo, indo, indo...

Interessante é constatar que ele, o tempo, soberano destruidor do existente, é incapaz de tocar no sagrado plantado dentro de nós. Pode nos levar pai e mãe, mas não apaga o que eles nos ensinaram. Algoz perseguidor de tudo o que é novo, o tempo nos envelhece, sem demolir os valores, as alegrias, e as certezas que a tenra idade construiu dentro de nós.

E com o suceder dos meses, clarifica-se a certeza de que não raras vezes, quando cri saber mais que meus pais, estive errado. Pois as letras nos livros nunca terão: a peso da experiência e o concentrado do amor que só quer amparar, favorecer, ajudar e desenvolver.

O amor amadurece sem apodrecer. O amor nos amadurece sem nos envelhecer. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

BOLEROS

eNTÃO...

A canção fala em saudade. E não "saudade de contigo voltar", e sim "saudade de amar". Considero muito propícios e fortes os versos "a gente não deve sofrer por amor tanto assim", e "só sabe de amor e saudade quem já ficou só". Um bolero digno de muitas audições. Por isso não me canso dele.

Caros ledores, fiquei pensando na questão França ou Minas nas cores do Facebook. A princípio penso que cada um coloque a bandeira que quiser no perfil de sua página pessoal. Ninguém tem nada a ver com isso. Porém, porque o atentado no estrangeiro parece ter mobilizado mais que o acidente no próprio país?

Longe de qualquer espécie de estudo social ou afim, creio que possa parecer mais próximo de nós a violência inesperadamente cometida num evento lúdico. Afinal, quantos de nós estamos acostumados a festas, boates, casas de shows, shoppings, cinemas, etc? Quantos já não viajaram para fora do país e divertiram-se lá? Quantos "gringos" já não conhecemos por aqui? Ademais, a dor francesa foi diretamente causada por decisões humanas extremistas em total desacordo com nosso modo de pensar e de viver. Aquelas mortes nos ofendem porque qualquer um daqueles poderia ser um nós ou um dos nossos. A simpatia com os franceses é apenas mais um modo de ressentir nossas dores e nossos medos.

Um novo bolero brada "meu bem, conta pra saudade, que a felicidade veio morar em seu lugar". Assim seja na vida das famílias que perderam entes queridos. Seja na França, no Brasil, em Minas ou noutro estado, seja onde for. Que mais do que brigar por cores num perfil, cada um possa amar de verdade, transcendendo em bondade, por mais singela que seja, e ajudando aquele que sofre a superar suas tragédias. Cada um se solidarize com quem quiser, mas que todos sejam solidários.

Amém.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

AGONIA

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"Aqui no coração eu sei que vou morrer um pouco a cada dia"

Há feridas que não cicatrizam, enfermidades que não se curam, e dores que não passam. Transmite carência de fé tal afirmação? Quiçá. Só quem sofre conhece a dor, e ninguém mais. As palavras podem criar reciprocidade, aproximar, gerar compreensão. Todavia, o que está entranhado na carne da gente é só nosso. Tão nosso que não se pode exprimir com precisão.

E quando a vida se mostra esvair, não só no tempo, mas também no sangue que pulsa de dentro de nós, para tornar-se mancha preocupantemente desprezável, um choque de realidade impõe-se, por vezes conduzindo à lágrima, noutras à revolta, em alguns vergonha, noutros  resignação. E onde buscar um esgar: na agonia ou na euforia? A canção elucida "se eu tentasse entender, por mais que eu me esforçasse, eu não conseguiria". Então, se dizer não resolve, melhor calar.

No entanto, uma abissal ironia se apresenta neste ínterim: calar também é comunicar! E destarte, esconder na transparência, ocultar em pleno dia, velar sob peneira, são missões cumpríveis por pouco tempo, em algum ínfimo e imprescindível milésimo de segundo, a verdade salta gritante de seu canto silente. E, seja longe ou seja perto, seja muito ou seja pouco, a algum lugar ela chega para algo deixar.

Sobre o que estou falando, ledores? Com sinceridade lhes respondo: nem sei, ó. Se entenderem, me expliquem. Se como eu, divagarem entre o emaranhado dosadamente misturado de termos usados neste texto, apenas reflitam e alguma luz se lhes mostrará. Um beijo no coração de todos.

domingo, 15 de novembro de 2015

MAIS UM DIA...

eNTÃO...

Como pode aprontar tanto e depois com a mais perfeita feição de vítima chorar com o mais perseguido dos homens? Nem sei se admiro ou se me enojo. Mas, paciência... A vida tem desses naipes. E esse foi apenas no fim da noite. O dia teve outras interessantes surpresas.

Enquanto falava com os catequizandos que amanhã farão sua primeira comunhão, um pai e seu pequeno filho me chamaram na porta. Queriam se despedir. Imediatamente pensei: "mas eu é que pretendia me despedir deles!". Sim, foram viajar e provavelmente não voltem antes da minha partida. A criança de quatro anos deu-me um beijo afetuoso. Foi, talvez, o primeiros dos poucos fãs que conquistei nesta cidade. Espero um dia poder revê-lo, homem feito, feliz, e servindo a Deus.

Já à tardezinha o celular vibrou. A mensagem dizia "estou em Cruzeiro do Sul, se puder, quero visitá-lo amanhã". Imediatamente pensei: "mas eu agendei minha visita de despedida à família dele e ele me vem visitar antes".Sim, embora sem sucesso, a primeira pessoa a vir me procurar em Guajará foi de Thaumaturgo. A primeira pessoa de fora a me visitar em Guajará foi de Thaumaturgo. E agora, novamente terei visita de lá. E não consigo me libertar da incontrolável percepção de tais detalhes.

Depois do jantar, ingerir os comprimidos receitados com a seguinte orientação "só pare de tomar depois que morrer". Como olhá-los e não pensar "tomá-los pelos próximos quarenta anos? acho que não!". 

Enfim, ledores, sei que não lhes interessa minha vida, e sim minhas singelas reflexões. Acontece que me dei conta, a partir desses rotineiros fatos, que há certas ironias na vida. A gente planeja um "oi" e de repente o recebe antes de oferecê-lo. A gente espera um "tchau" e percebe que só o terá se ofertá-lo antes. E assim a história vai se fazendo, tantas vezes, à mercê do que queremos ou sonhamos. É a vida, é bonita e é bonita. Bjs.

SEA

eNTÃO...

Tudo se encaminha para a reta final. Um fim cá que se tornará um começo lá. É assim a vida. Estou ouvindo "Sea", na voz de Ney Matogrosso. Confesso nunca ter dado muita atenção a esta música. Porém, hoje ela fala comigo.

A vida dá tantas voltas que às vezes a gente se sente tonto, não? De repente, olhar para trás, lembrar dos amigos de adolescência e juventude, dos quais sobrou apenas uma aceitação no facebook, conscientiza do quanto tudo mudou, embora alguma coisa tenha estado sempre presente. 

Somos quem somos, sempre. E o mesmo homem de agora é o menino de anteontem. No entanto, com algo mais além da idade. Oxalá seja maturidade. Fato é que a moeda está no ar, cairá cara ou coroa? Só mesmo o momento dirá. Os dias estão passando. As horas se aproximando. A algum lugar chegaremos, isso se não nos mantivermos estacionados na mediocridade de uma vida sem ideal. Já ouvi que parar é sinônimo de andar pra trás. Na hodiernidade, indubitavelmente, creio ser verdade.

Pior é não ter segurança de pra onde se está indo. A cada decisão tomada, um rumo se nos apresenta à frente. Onde dará? Repito: só mesmo o momento dirá. Decidamos de boa consciência. Não há outra saída, há? Paciência. No fim, como deseja a canção "y que sea lo que sea".

Grande abraço, ledores.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

CHANCE DE ALADIM

eNTÃO...

Sem preconceitos, prestemos atenção à letra.
Quando a mim, simplesmente gosto. Nada mais a declarar.



quarta-feira, 11 de novembro de 2015

SEMPRE CAMINHAR

eNTÃO...

"Pra cada passo existe um tempo, existe uma hora."

Ainda neste dia refletia na visita a duas senhora idosas e enfermas sobre a cura dos dez leprosos. Mesmo doentes, eles se puseram a caminho, de acordo com a orientação de Jesus que lhes dissera "vão apresentar-se ao sacerdote". Respeitado o devido contexto histórico do evento, viajei, em minhas "loucurações", com o seguinte pensamento: "eles foram curados no caminho". O Senhor poderia tê-los curado prontamente, porém os preferiu colocar num itinerário de fé primeiro.

Fiquei pensando na importância do caminho. Não uma ou duas vezes Jesus falou em seguimento. E quando tratou do assunto, sem meias verdades, descreveu o percurso como sendo de estreita largura, e citou a cruz, a renúncia, a perseguição e a morte com partes integrantes da viagem. Na chegada, espera o pódio, a coroa, a medalha. Todavia, como nas corridas meramente humanas, alcançar tais troféus exige suor, determinação e sofrimento. Não é para qualquer um. E isso recorda-me outros ditos do Senhor: "aquele que perseverar até o fim será salvo", "os violentos conquistarão o Reino".

Aonde quero chegar com o que digo? Sinceramente, ledores: não sei. A canção afirma que "o importante é caminhar". Por isso, insistamos, passo após passo, sempre em frente, rumo àquilo que o Senhor planejou para nós. Mesmo não sabendo com precisão o que seja. A vida é cheia de altos e baixos, e não sabemos até quando estaremos por aqui. Temer a morte ou angustiar-se devido às ameaças que ela nos faça não ajuda muito a viver. Então, caminhemos, é o que pretendo fazer, enquanto Deus me permitir.

No final, que o coração esteja cheio de gratidão a Deus pela vida que nos permitiu viver, e por estar conosco em tudo o que construímos ou implodimos em nossa história pessoal. O estrangeiro voltou para Jesus louvando a Deus com cantos de alegria e reconheceu a misericórdia do Senhor jogando aos pés de seu taumaturgo. Que somos neste mundo que não forasteiros? Nossa casa é o céu.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

PORTO SEGURO

eNTÃO...

"Meu coração, a calma de um mar que guarda tamanhos segredos de versos naufragados e sem tempo".

Nada sei explicar sobre os motivos que me remetem a esta canção. O que me é certo: acordei com ela martelando minha memória. Imaginei um veleiro disponível para o percurso que eu quisesse fazer. Só bastava adentrá-lo e decidir o sentido para qual o ar deveria se mover. Vento e embarcação respeitariam obedientemente a minha vontade. Para onde ir? Para dentro de mim mesmo?

Bom seria seguir tal itinerário convicto de encontrar no ponto de chegada a serenidade de uma alma realizada consigo mesma e a tranquilidade de uma vida sem guerras, sem despojos, sem traumas ainda por curar. Concretizar-se-ia a utopia não impossível de descobrir-se, amar-se na totalidade, e convencer-se de uma história repleta de sentido, conduzida por um poder superior não déspota, mas transbordante de respeito e boa vontade.

Ali, os segredos já não seriam mais o que são, e os mistérios, ainda não elucidados, mostrar-se-iam transparentes como é a felicidade reluzindo num olhar. A paz simplesmente reinaria e nada mais se imporia necessário. E mesmo sós, perceber-nos-íamos acompanhados do afeto de tantos amantes e amados em nossa história. Cientes da gratuidade presente nos primórdios do nosso devir, alimentar-nos-íamos da gratidão em constante e perpétua erupção dentro de nós. Erros e acertos ver-se-iam no mesmo rol das braçadas desejosas do porto seguro para o qual se partiu em viagem.

Solidão não seria solidão. E companhia não seria ter-se ao lado. Já a vida seria vida, na plenitude daquilo que é por si em Deus.

Ledores, exagerei no uso de mesóclises, né? Por favor, torçam para que um dia eu aprenda a escrever. Grande abraço.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

APENAS MAIS UMA VIAGEM

eNTÃO...

O carro quebrar pela terceira vez em dois meses foi um mal sinal. Voltar pra casa de ônibus fez-se necessário novamente. Impagável, porém, a experiência de ouvir durante tanto tempo as histórias contadas por aquele paraense tão simpático. E eu nem imaginava que ele me conhecesse. Dois teores da conversa me chamaram a atenção.

Primeiro a grande diversidade cultural existente no país. Ele falava do Pará, de Roraima e de Manaus. E eu viajava em pensamentos na ânsia insana de um dia poder conhecer todos os estados brasileiros. Dialogar com seus povos. Conhecer suas realidades. Desvelar suas riquezas. Encantar-me com seus valores. Conviver com seus limites. Aceitar as diferenças. Assustar-me com possíveis contra-valores.

Em segundo lugar, sensibilizou-me o modo corajoso como encarava a vida e sonhava com a superação dos desafios impostos àquele que acaba de chegar com esposa e filho pequeno a uma nova região, sem ter parentes, sem ter trabalho, sem ter recursos. Tocou-me a alma ouvi-lo descrever a infância, tão parecida com a minha e a forma como em todas as situações procurou servir a Deus de bom coração.

Por fim, o mais gostoso de tudo, poder dizer-lhe que as portas da Igreja estão abertas e que dependendo da disponibilidade dele, ao menos leituras nas missas vamos providenciar para que faça. Isso me lembrou de outro paraense que interrompeu meus serviços de jardineiro, em Jacarezinho, para dizer que, recém chegado ao Pará, desejava participar da comunidade.

Assim é a vida, vamos acolhendo o quanto pudermos. É tão melhor assim. Difícil compreender uma comunidade que se fecha em panelas, que absolutiza a liderança, e que sente prazer em dizer que há décadas as coisas são como são. Judas mal morrera e já os apóstolos elegeram Matias. Doze foram os primeiros, hoje existem milhares espalhados pelo mundo. Enfim, abrir portas me parece o caminho. É certo que nem sempre conseguimos dizer "sim", mas que o façamos o máximo possível.

Ledores, beijo no coração de vocês.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

IRMÃOS...

eNTÃO...

Jesus curou a filha da cananéia, e não pediu que elas se convertessem à Torah e nem que o seguissem. Curou os dez leprosos sem se preocupar quantos fossem judeus e sem atentar para o fato de um ser samaritano. Dispôs-se a ir até a casa do oficial romano, curou o servo do homem "pagão" sem exigir nada de ambos. E tudo isso me martelou a consciência no dia de ontem.

Desconfio que Jesus jamais tenha se aproximado de atitudes proselitistas. Aqueles que o seguiram o fizeram de livre e espontânea vontade. Ele não ameaçou quem o rejeitasse. Os "ais" que manifestou dirigiram-se àqueles que não praticavam de bom coração a sua própria religião. Quando o estranhamento abateu-se sobre seus seguidores, devido ao discurso do pão da vida, com segurança respeitou os que preferiram se afastar e serenamente ofereceu a mesma opção aos doze.

Somos acostumados a dizer que Jesus acolheu as minorias desprezadas de seu tempo: os pobres; as mulheres; as crianças; os doentes. E quando assim agiu, o Senhor, dando-se misericordiosamente, nada cobrou, e nem criou obstáculos ou elencou condições do tipo: "curo apenas se..." ou "liberto somente caso...". E assim foi que tratou os estrangeiros também. E quando, no tempo de Jesus, se fala em estrangeiro, imediatamente se pensa em outras experiências religiosas.

A exceção de que me lembro é apenas no encontro com a Samaritana. Buscar o marido significava decidir-se por seguir e adorar ao verdadeiro Deus. O único capaz de dar água da vida. E quem seria tal divindade? Jesus afirma ser Ele mesmo. Destarte, confesso, não nego, se Jesus é aceito como Senhor e Salvador por um homem ou uma mulher quaisquer, este alguém, ainda que não esteja ao meu lado, segue e adora ao mesmo Deus que eu. 

Este texto destoa do meu estilo, ledores? Perdão. Sou meio metamorfose ambulante. De repente, mesmo estando cem por cento presente em mim mesmo, fujo de mim. Sim, eu gostaria que todos fossem católicos, mas já seria feliz se todos fossem cristãos. Enquanto espero por isso, que ao menos, católicos ou protestantes, cristãos ou não, como pessoas, saibamos nos respeitar, acolher e solidarizar fraternalmente. Creio que isso agradaria a Deus, ver seus filhos, mesmo tão diferentes, sendo irmãos de fato.



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

SÃO FRANCISCO XAVIER

eNTÃO...



Estou ouvindo um repertório vocacional e pensando dos caminhos do Senhor. Primeiro ouvi, bem no fundo da minha consciência, a voz de Deus me chamando para o Acre. Fiquei meses discernindo. Livrando-me dos apegos e superando os medos, para finalmente dizer "sim", enfrentar o estranhamento dos amigos e familiares, e partir. E cá estou na Amazônia. 

Quando surgiu a possibilidade de ir pro Mato Grosso, não pensei se quer cinco minutos. Disse "sim". Não tive medos para superar e nem apegos de que me livrar. Esperei três meses pelo contato que sacramentasse a decisão, e o que aconteceu? Semana passada fui nomeado para um paróquia no interior do Paraná, pertinho de onde nasci e dedicada ao patrono da missões. E cá estou, na Amazônia, trabalhando na alma os receios de voltar e me preparando psicologicamente para os desafios que lá me esperam.

Há uma simplicidade muito grande nos fatos que relato. Ao mesmo tempo, no entanto, uma misteriosa ironia. No momento em que meu coração encontra-se comodamente aninhado, sou impelido a abrir as asas e a alçar um longo e distante voo. No momento em que me sinto livre para continuar pelos ares, sou direcionado a voltar pro ninho. O melhor é que, mesmo não entendendo, creio, confio e espero. Estou convicto de que aí está a vontade de Deus para minha vida.

Que mais posso dizer neste texto? Talvez o que diz a canção "quem deixa Deus ser Deus vê melhor aquilo que os olhos não podem ver". Paciência. Redescubro a cada dia o peso e alegria dos versos "aonde mandar eu irei, seu amor eu não posso ocultar". Enfim, entre tantos sonhos, realizados ou 'frustrados', vou me conscientizando que o que realmente preciso é anunciar. Muitos dons desejei, mas é este que Deus me deu "com a voz testemunhar e ensinar a este mundo como é bom" amá-lo e servi-lo.

Ah, ledores, gostaria de não precisar escrever o que vou escrever, porém pressinto ser necessário. Fiquei muito feliz com a nomeação. Grato a Deus, ao bispo, e aos padres conselheiros, que, sem saber, me confiaram justamente a paróquia com a qual meu coração flertava. Deus é bom.

Por fim, quando a vida parecer nos dar uma rasteira, cantemos para nós mesmos: "Espera no Senhor e tem coragem. O importante é caminhar!".

Bjs.

sábado, 31 de outubro de 2015

SILÊNCIO E SOLIDÃO

eNTÃO...

Confesso e não nego, essa música sempre me emociona.
Bom final de semana, ouvidores.


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

QUALQUER DIA...

eNTÃO...



Comecei esse texto há mais de mês, só agora resolvi terminá-lo e publicá-lo. Ao longo da vida, muitas pessoas passam por nossa história. E vamos aprendendo a respeitá-las, a conviver com elas: algum afeto ou desafeto se forma. Os grandes amigos, aqueles que tatuam nossa alma para a eternidade, de cuja a presença é sempre agradável, mas não indispensável para a perenidade do sentimento, sim, ledores, esses são raros. Contamos nos dedos. Todavia não são os únicos a marcar nossas lembranças. Há toda uma constelação de estrelas menores brilhando no universo do nosso coração.

Não cabe aqui a reflexão "sou uma estrela maior ou menor na vida de fulano ou de beltrano?". o que cabe é buscar em nossas memórias por aquelas pessoas que trouxeram alegria, paz, solidariedade, companhia, e afins, em algum momento da nossa existência e que mesmo tendo ido adiante ou permanecido lá atrás, são objeto de merecida gratidão e de singela saudade.

Quantas dessas pessoas gostaríamos de reencontrar para um momento de "bate papo"? Mesmo que fossem apenas alguns minutos, um aperto de mão, um sorriso, um abraço... E se fosse mais, uma pizza ou até mesmo uma porção de batata, quanta satisfação teríamos.

Claro que no tempo decorrido muito mudamos. Alguns de nossos caminhos podem parecer contrastantes. Imagino um padre se reencontrando para se confraternizar com um amigo que se tornou ateu ou indiferente religioso. E daí? Vale, nesta hora, a partilha da vida, dos passos firmados, das realizações pessoais conquistadas. Bom seria apenas ficar feliz com a felicidade do outro. E fantasio que de alguma forma estaríamos todos felizes.

Utopias de minhas loucurações. O que espero é que seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia, ledores, a gente vai se encontrar, discutir os melhores textos (e os piores também), e dar muita risada juntos. Beijos no coração de cara um.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O MAIS BELO E O MELHOR DOS FARÓIS

eNTÃO...


Ontem amanheci desejoso de ouvir o Hino do Acre. E o fiz. Não sei a razão. Nunca sei, embora de alguma forma sempre saiba. Mas, ledores,  posso afirmar com convicção, o Acre existe. E não tem internet chegando por conexão a cipó. Menos ainda onças e jacarés passeando em praça pública.O que vejo por aqui é um povo simples que protagoniza uma saga de luta e de esperança.

Esperança por estradas que os liguem, primeiro entre si, mas também ao resto do país. Esperança por respeito e reconhecimento vindo dos outros Brasis. Esperança de que o progresso os alcance e lhes traga melhores condições de vida. Esperança de que seu jeito de ser e de viver seja visto não como arcaico ou rural, mas sim como sua idiossincrasia cultural própria.

E para sobreviver com dignidade esse povo luta contra as ameaças de sua incomparável e bela aliada, a floresta amazônica. Luta em seus roçados. Luta em suas casas de farinha. Luta com os motores que os ajudam a subir e descer os rios, ora cheios e ameaçando alagamentos, ora vazados e ameaçando encalhamentos. Sobretudo nos recônditos mais distantes, quase isolados, sem estradas, luta para existir, apesar dos poucos recursos médicos, da falta de medicamentos, e da desatenção dos governos instituídos.

Vejo por aqui essa gente que sabe sorrir, que sabe se divertir, que com pouco sabe ser feliz. Não são indígenas, embora muitos estejam por aqui. Não são cearenses, embora muitos de seus ancestrais tenham vindo do Ceará. São o que são, com a graça de Deus, acrianos. Por fim, creio que o astro, tinto no sangue dos heróis de outrora que com armas conquistaram esse território para a nação brasileira, refulge também do suor, da labuta, do olhar e dos sonhos daqueles ainda hoje defendem essa terra, essa cultura, essa gente, que é gente nossa.

Abraço, ledores.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

PERDAS NECESSÁRIAS

eNTÃO...

Como é difícil traduzir em palavras os sentimentos, não ledores? Vamos tentar.

Quando me deixei trazer para o norte, pensei nas perdas que faria. E, posso não ter jamais mencionado antes, mas refleti muito sobre como seria se alguém que me fosse caro falecesse e eu estivesse tão longe que mal pudesse ficar sabendo. E, creiam, não me foi fácil encarar essa possibilidade e ainda dizer "sim, eu vou".

Concluí que, comigo ou sem mim, as pessoas nasceriam e morreriam de qualquer forma. Acreditei que, comigo ou sem mim, as pessoas que trago no coração teriam as homenagens merecidas se chegasse seu momento de ressurreição. Redescobri minha pequenez e a grandiosidade da vida. Reconheci ser desnecessário no rumo de vida daqueles que amo, para poder livremente entrar no rumo de vida dos que precisaria, não só conhecer, mas aprender a amar.

Sei que estas últimas afirmações são estranhas, porém não encontrei outra forma de dizer que ficar para esperar a morte já seria caminhar para ela. Há muita vida no horizonte. Muitos encontros se me mostravam precisos, e eu sentia a necessidade de fazê-los. Confesso, no entanto, a cada desobriga que enfrento, volto com a mesma tensão: "terá, nesses dias em que estive isolado na beira dos rios, morrido alguém?"

Nesta desobriga a resposta foi afirmativa. E pude viver, não pela primeira vez na missão, o pesar de não estar lá, com minha presença, reafirmando a importância de tais pessoas na minha história de fé. Dói o desejo de dar e receber alguns abraços nessa hora. O por mais sinistro que pareça, faz-me falta ter ajudado a carregar aqueles féretros. Erguê-los e acompanhá-los seria meu jeito simples de dizer "obrigado".

O que pude, fiz. Ofereci minhas missas com gratidão a Deus pelo aprendizado, companheirismo e acolhida que recebi e que estarão para sempre em minha alma. Contudo, não há de que me arrepender. Havia sementes para plantar, não me consegui negar a essa lida. Se estive ausente lá é porque fui presente aqui.

Por fim, lembro os versos da canção: "é possível crescer nesta hora, mesmo quando o que amamos foi embora, a saudade eterniza a presença de quem se foi, com o tempo essa dor se aquieta, se transforma em silêncio que espera, pelos braços da vida um dia, reencontrar!".




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

TEMPUS FUGIT

eNTÃO...

Ledores, infelizmente estou sem tempo para escrever. Por isso venho aqui avisar que provavelmente só volte a postar a partir do dia 28 de outubro. Estarei sem internet na próxima semana. E nesta estive bem sem tempo.

Correria danada para que o tempo não vá embora sem que o marquemos de alguma forma. Engraçado como temos certos insights em momentos tão inesperados. Só Deus entende ou explica.

Bem... Perdoem-me pela ausência nesta e na próxima semana. Espero reencontrá-los quando eu voltar. Beijo no coração de todos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

RECONHECIMENTO E ADMIRAÇÃO

eNTÃO...



Viva a Mãe de Deus e Nossa, ledores, a Senhora Aparecida. Amém. Amém.

Que mais dizer a respeito da Mãe de Deus que já não tenha sido dito? Difícil. Porém, mais difícil é se conformar que tantos católicos se abstêm da devoção à Santíssima Virgem. Uma parte deles por falta de verdadeira formação catequética. Outra boa parte por se deixar influenciar por pensamentos protestantes.

Respeito quem não crê, e desejo ser igualmente respeitado em minha fé.

Primeiro: minha formação humana me leva a admirar a mulher que tão pronta e intensamente se entrega aos desígnios de Deus, dizendo "sim" para um projeto totalmente inédito e que mudaria radicalmente sua vida. Seu assentimento à proposta divina é de uma abnegação única, sem tamanho.

Segundo: dizer "sim" já nem sempre é fácil, todavia manter essa resposta com fidelidade por toda a vida é ainda mais exigente. E com humildade sem tamanho reconhece sua história como fruto da bondade de Deus e não como recompensa de seu méritos humanos. É assim no Magnificat e durante a vida pública de Jesus. Seu compromisso se estende por toda a sua história, de tal modo que mesmo após a Ascensão de Jesus, ela permanece com os Apóstolos.

Terceiro: sua vida, como a de qualquer ser humano, não esteve privada de incompreensões e de dores, haja vista a profecia de Simeão, o esquecimento do Menino no Templo, a fuga para o Egito, e a mais cruel de todas as situações, ver seu filho morrendo na cruz. Diferentemente, no entanto, da atitude que seria natural, ela não blasfema, não reclama, não se perde de si mesma. Confiante em Deus, ela guarda tudo em seu coração e espera pela resposta que apenas seu Senhor lhe poderá dar na hora que a Ele aprouver.

É possível não venerar tal mulher? É possível menosprezar seu exemplo de vida? É possível ter fé e ao mesmo tempo não vislumbrar a História Sagrada se enrolando e tendo como co-protagonista essa jovem senhora? Se tudo não passasse de uma obra literária, Maria seria a "mocinha", fascinante e bela, perseverante e determinada ao lado do herói, o único e verdadeiro salvador da humanidade.

Ledores, perdoem-me por cansá-los com minhas delongas. Hoje, contudo, sem as insignificâncias da maioria das demais postagens. Ainda há muito o que gostaria de escrever, por isso, com a graça de Deus, hei de voltar a este assunto. Beijo no coração de todos e que abençoadas sejam as crianças do mundo inteiro, hoje e sempre.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

PATÊ, BOLACHA E COCA-COLA

eNTÃO...

Estou ouvindo "Amar é isso", da cantora andiraense Vera Lúcia. Nem sei a razão que me levou a redescobrir essa canção nesses dois últimos dias. Fato é que ao escutá-la, minhas reminiscências levam-me às tardes de quinta feira, nos anos iniciais da década de 2000. Como eram bons aqueles encontros e reencontros, regados a sorrisos, discussões críticas, aprendizados em tantas dimensões: eclesiais, comunitárias, afetivas, linguísticas, políticas.

Na inocência de jovens estudantes distanciados da família, creio encontrássemos ali um ponto de apoio humano muito importante. Eram-nos como mães, irmãs, madrinhas, boas e confiáveis amigas. Sempre dispostas a acolher-nos com um sorriso nos lábios. Fosse assistir a um bom filme, ou gravar os show que estavam passando na sky, para fabricar e tomar vaca preta ou amarela, ou para apanhar, descascar e chupar as laranjas e mexericas do quintal, ou para merendar os foleados de frango e de presunto e queijo, ou ainda para oferecer-nos um almoço durante as férias... fosse para o que fosse, as portas estavam abertas.

No meu caso, um diferencial: além de tudo o já dito, ainda havia os encontros para ler meus singelos e insipientes contos, ensinando-me o bom uso das conjunções, o significado de alguns termos, e ajudando-me a desenvolver a arte do uso das palavras escritas. Em uma dessas correções textuais é que descobri como orações reduzidas, quando bem colocadas, embelezam a mensagem e dão nobreza ao autor. Não há dedos para enumerar o tanto aprendido.

O tempo nos imputou novos afazeres. Os compromissos nos colocaram em novos rumos. E as atas das tardes festivas tornaram-se raras. Seria ótimo lê-las agora. Rir rememorando as peripécias de gente feliz que se encontra, partilha de si, confraterniza-se, e se acaba mais feliz que antes.

Nem sei, ledores, o porquê de ter lembrado da música e desses eventos. Sei que sem vínculos biológicos ou legais, sem afetos passionais e sem convenções legais, éramos uma grande família de cujos membros se respeitavam e se ajudavam. E o grupo se mantinha aberto para agregar novos membros. Tempos bons, muito bons, que mais do que saudades, deixaram valores. 

Deus abençoe a todos.
Amém.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

DON'T WANNA SAY GOOD BYE

eNTÃO...

A música pergunta "pra que rimar com nunca mais?". Embora desde criança ouça e me emocione com essa canção, só nos últimos dias tenho refletido mais a fundo sobre a beleza de sua letra.  E conscientizo-me de que alguns amores exigem presença, já outros nos forçam a ausência. E há, sim, solidões que necessitam ser traduzidas.

O que fazer então com o sentimento presente em nós? Com alegria ou com tristeza, com prazer ou com dor, é indispensável aprender a trabalhá-los, integrando-os à realidade que vivemos, para podermos então, alocá-los na melhor dimensão de nossa existência. Só assim estarão em nós sem nos amarrar ou prejudicar. 

Amar é realização e sacrifício! Por vezes, a maior manifestação de amor é estar junto. Noutras vezes, a maior manifestação de amor é ter a coragem de se ausentar.Pois só assim a pessoa amada conseguirá olhar o céu, alçar asas, e voar para mares que lhe aprazam mais e melhor. E mesmo sendo lugar comum, repito aqui o que poderia ser uma máxima piegas na qual acredito: "o verdadeiro amante encontra sua felicidade na felicidade do amado".

Não ledores, não desejo com minhas reflexões de hoje desconstruir toda a afirmação da poesia musicada. Pelo contrário, ela sempre me inspirara romances eternos, onde mocinho e mocinha viverão felizes para sempre no final. Entretanto, concordemos que na vida real isso não é regra.

Por fim, um de seus versos é, na minha humilde opinião, propício para qualquer situação: "em qualquer parte é triste um adeus". Beijos, ledores, com carinho e respeito, em cada coração.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

DEUS ME AMA

eNTÃO...

Nenhuma outra confissão me seria extraída hoje que não os versos desta canção.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

INSÔNIA

eNTÃO...

É madrugada. Estou sim muito cansado e ao mesmo tempo sem sono. Na TV, The Manhattans cantam "Wish that you were mine". Estou, como sempre, pensando na vida. Nas noites insones da juventude, quando ligava meu Yamaha PSR510 já depois da meia noite, quando todos dormiam, e tocava baixinho "vem espírito, sozinho eu não posso mais..." Tempos bons aqueles. Década de 90.

Muita coisa mudou de lá pra cá: não toco mais teclado! Providencial que agora, a TV, me divirta com Chet Baker. Seu som me traz paz interior. Reflito sobre como é difícil julgar sem possuir parâmetros para tal. E me vejo forçado a admitir que vivi diversas situações inéditas no último biênio. Situações estas, para as quais meus parâmetros se me revelaram deficientes. A vida é maior que eu. O mundo é infinitamente maior do que o pouco que sei. E o humano é incomensuravelmente maior do que qualquer homem.

Assim o existir conscientemente é sempre um salto no escuro. Por mais que se programe o amanhã, ele sempre será dono dele mesmo. Pode livremente fazer-se hoje, adaptando-se a nossos planos, ou, revoltosamente, impor-se contrário a nossos projetos. Cabe-nos lutar pelo que queremos, investir em nossos bons propósitos, buscar o bem almejado, e conquistar tão só aquilo que a história nos permitir.

E o grande desafio na arte de viver é aprender a satisfazer-se, realizar-se, ser feliz, simplesmente vivendo. Encontrar no ser aquilo que se é a razão de ser, de existir. Atingindo tal serenidade interior, o sorriso tornar-se-á perene em nosso rosto, e um brilho especial jazerá eternamente em nossos olhos. Deus nos ajude a chegar lá. Amém.

PS.: Ledores, usei advérbios demais, não? Perdoem-me o fato, por favor. Beijo em cada coração. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

MENTIRAS

eNTÃO...

A verdade há? Certas horas desconfio que não. Algo tão sincero agora, minutos depois se mostra irreal.E então me pergunto se a vericidade nunca foi ou se em algum momento deixou de ser. Não tenho respostas.

Talvez tais experiências sejam frutos da constatação de que tudo que nos certa é efêmero, inclusive as relações humanas. De ontem pra hoje, gostares se esvaziam em silêncio e solidão, conquistas tão almejadas perdem o brilho, esperanças se apagam, e novos brotos de vida, pessoas desconhecidas, e inéditas sementes inter-relacionais surgem, oferecendo rumos inéditos que podem ou não ser seguidos.

Nosso tempo, tão raro e precioso, amiúde é desperdiçado, e quando nos damos conta, o que há de mais verdadeiro ficou pra trás. Cruel perceber que carregamos conosco sérias mentiras. Pior é ser forçado a admitir que ninguém no-las contou. Nós mesmos as criamos, investimos energia nelas, para, mais adiante, vê-las tombar por falta de alicerces sólidos.

Que fazer? Desesperar? Claro que não, ledores. Insistir em viver é a decisão a ser tomada. Assumir os riscos e as consequências das escolhas realizadas é o mínimo que se espera de alguém com nobreza de alma e vergonha na cara. E se algo vai desvelar-se fugaz e falso amanhã, que pelo menos hoje, seja veraz em nós, para que, ao menos nós, não sejamos mentirosos, enganadores, falsos.

Deus tenha misericórdia. Amém.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

COMPREENSÕES E EMPATIAS

eNTÃO...

Certa vez ouvi e desde então passei a repetir: somente um pertencente ao grupo pode compreender um membro do grupo. O tempo tem me mostrado que isso é muito verdadeiro. Claro que, respeitando algumas devidas exceções.

O que quero dizer com isso? Somente um professor em sala de aula consegue entender as alegrias e tristeza de ser professor em sala de aula. Somente um vendedor ambulante pode compreender com alguma perfeição os gozos e agruras de passar pelas ruas gritando o nome de seu produto. Sim,  um professor que passou a vida inteira em secretarias e direções não sabe o que é dar aula. Pode ter muitas teorias, falar bastante e bonito, todavia nem sempre com muita acertabilidade.

É muito fácil teorizar sobre aquilo que se pensa conhecer. Mas calçar nossos sapatos não é pra qualquer um. E por "nossos sapatos" não falo exclusivamente sobre minha vida sacerdotal, mas me refiro também à sua vida, querido ledor. Ela é única, é sua, e nem todas as pessoas são capazes de compreendê-la.

Diante das incompreensões é necessário que nos compreendamos a nós mesmos, que saibamos nossas reais motivações e ajamos com sinceridade de coração. Diante da falta de empatia, um bom diálogo e veracidade de atitudes podem construir muitas pontes.

É tão bom sentir-se compreendido! Tão bom quando alguém se nos torna empático. Suspeitar que nosso mundo interior, embora inteiramente nosso, pode fazer parte do outro traz certa serenidade, pois nos tira da solidão de nós mesmos, e nos remete à certeza de que misteriosamente podemos ser acolhidos, respeitados e amados.

Assim desejo que, ao menos nos grupos dos quais fazemos parte, entre as pessoas com as quais vivemos e convivemos, tais níveis de relação humana jamais sejam utopias, mas sim degraus que pouco a pouco nos elevam ao céu. Amém.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

PONTO DE VISTA OU PONTO CEGO ???

eNTÃO...



Estava eu há dez metro de altura, num andaime de construção, fazendo selfies. Não resisti a registrar essa imagem: a lateral de casa e a oficina nos fundos do quintal. Visto do alto, esse lugar parece outro. As árvores, do chão, não parecem tão verdes e tão copadas. E a residência, alta vista de baixo, parece pequenina quando olhada de cima. A beleza depende do ponto a partir do qual foca nossa vista?

Fico refletindo sobre como a realidade pode ser relativa. O que uns vêm como lindo, outros simplesmente abominam. O maior sonho de consumo de alguém pode significar nada para outrem. O que me contenta pode ser pouquíssimo para vocês, ledores. E a vida é assim! Isso me remete para aquelas discussões das aulas de filosofia: "será que o verde que vejo tem o mesmo tom do verde visto pela pessoa a meu lado?". Talvez não. Paciência.

Pior é reconhecer que algumas realidades são simplesmente invisíveis para alguns. E por mais que se explique, mostre, ou desenho, há quem seja incapaz de compreender. Suspeito tratarem-se das chamadas "ignorâncias invencíveis" de que nos escreveu São João Paulo II. "Ponto cego" é, também, uma expressão para nomear tal qualidade humana.

O ponto cego é aquela região do carro que os retrovisores não mostram, ou aquela dimensão da rua que a estrutura do veículo não deixa ver. Por causa destes pontos cegos muitos acidentes acontecem. E não podemos negar carregarmos conosco alguns, quando não muitos, pontos cegos.

Ledores, sejamos sinceros. Há o que não conseguimos entender e aceitar. E há também o que, definitivamente, não queremos aceitar ou compreender. Nem sei o que é pior: a incapacidade ou a negação. Na verdade, ambas são limitações de nossa alma. Todavia, enquanto uma é um limite, por ventura, inato, a outra é pura obstinação. 

Fico pensando nessas ignorâncias invencíveis e tentando encontrar as minhas. A Amazônia me ajudou nisso. Amém. Aleluia. Oxalá consiga encontrar alguma própria vencibilidade nessas invencíveis situações e, a partir delas, melhorar alguma coisa no automóvel que sou eu.

Deus nos ajude a todos. Bjs.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

SANGUE DE BARATA

eNTÃO...

Ontem fez um ano que deixei Eirunepé. Ledores, essa data estará gravada em minha memória ainda por algum tempo, mas depois, creio que a esquecerei.

Qual seu significado? Nem sei se consigo explicar. Mas penso minha vida estar marcada de muitas formas pelos dias vividos lá. Quero citar apenas três. Vamos lá...

Na primeira tem destaque a experiência do limite. Não consegui permanecer por lá durante o tempo que se havia predeterminado. E minha desistência faz-me sentir o sabor da derrota. 

Na segunda tem destaque a experiência da coerência. Permanecer lá seria apostar no exercício de um ministério sacerdotal incoerente com o ministério buscado por mim. E isso me mataria aos poucos.

Na terceira forma a citar tem destaque a experiência de fraternidade. Talvez, cinquenta dias em que lá estive, fiz mais contatos fraternos que em seis meses em Guajará. E de algumas almas boas, companhias musicais, jovens liturgistas, agentes de pastoral carcerária, preciso admitir sentir certa inquietação ao refletir sobre o que poderíamos ter feito juntos se eu tivesse ficado.

Perdão, ledores, por ficar contando fatos desinteressantes. O melhor é fazer reflexão. Vamos tentar então.

Na vida, desencontros podem ser fonte de bons encontros. Tudo o que  me levava a crer ser minha presença em Eirunepé desconforme a meu projeto de vida levou-me a rever tal projeto e a firmar o que me realmente era importante dele. Redescobri a mim mesmo, a minha vocação, ao caminho que naquele momento eu precisava trilhar. Essas coisas me levaram a Marechal Thaumaturgo. E disto não me arrependo.

Admito, todavia, que os dias que precederam e que sucederam à decisão de pedir pra sair foram sofridos. Dói reconhecer não ser a pessoa certa. Surpreendi-me e magoei-me com o jeito de o pedido ser, a princípio, rejeitado. Triste e solitária foi a saída. 

Mas hoje, um ano depois, recordo-me sem abatimento. Passou. Acabou. Sobrevivi, graças a Deus. E algumas coisas aprendi. Eis o mais importante, de alguma misteriosa forma, cresci.

Não lhes desejo, ledores, crises, sofrimentos, decisões difíceis a tomar. No entanto, se um dia tiverem de enfrentar tais situações, que lhes sirvam de aprimoramento humano, e os leve à santidade. Amém.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

DESAFINADO

eNTÃO...

A história diz que Tom demorou pra convencer João a gravar Desafinado.Isso porque o cantor temia que se acreditasse ter ele realmente desafinado. Seria até assustador, o intérprete que primava pelos vibratos precisos, pela qualidade no tom, pela melodia perfeita, perdendo a nota e fugindo do tom.

Crônicas à parte, têm me chamado a atenção o fato de que alguns cantores, nas missas, semitonam o tempo todo. Aqui vale afirmar e confirmar que isso não me incomoda. Pelo contrário, estou tentado a dizer que seja quase um estilo de tais pessoas. É a forma como sabem cantar. Ademais, o povo não reclama. Por vezes até elogia.

Vou além em meu comentário desproposital. Tenho a impressão que tais voluntários, mesmo não sendo os melhores cantores, são disponíveis, cheios de boa vontade, desprovidos de estrelismos, e, com sua voz, sustenido acima ou bemol abaixo do que deveria, louvam a Deus com a alma, e tocam o coração de muitas pessoas.

Não quero aqui fazer apologia ao descaso musical e menos ainda menosprezar o aprimoramento melódio, seja de instrumentistas ou de vocalistas. Quem me conhece sabe o quanto prezo pela qualidade musical. Pretendo apenas ressaltar que o mais importante, quando se trata de canto religioso, é a unção. E esta é rara em pessoas cheias de si. Só prega, ou canta, ou toca, na força do Espírito, aquele que admite sua limitação, que pode não ser musical, e se deixa preencher de Deus.

No mais, gosto muito da poesia, quando diz, "o que você não sabe, nem se quer pressente, é que os desafinados também têm um coração ". Sejamos ases das notas ou principiantes nos sons, que Deus nos dê um bom coração em tudo o que fizermos. E claro que essa prece não serve apenas para os envolvidos com o meio musical. Bjs, ledores.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

INCERTEZAS E EXATIDÕES

eNTÃO...

Diz a canção "o futuro pertence a quem menos esperar, normalmente a sorte está com quem não se dá nem conta".

Ledores, é estranho pensar no mistério da sobrevivência. Às vezes tenho a sensação de vivermos num grande reality show. Com a diferença de que não há um último concorrente que se tornará o grande vitorioso. No Big Brother da vida, todos, em algum momento, serão eliminados. Isso é fato. Mas não quero versar sobre a morte, e sim fazer pensar nas naturais eliminações que cotidianamente nos cercam.

Um exemplo? Vou dar. Desconheço uma turma de estudos que comece e termine o curso sem ter baixas. Desconheço uma equipe de trabalho perene e sem transferências. Desconheço uma turma de formados que passe a vida toda na mesma profissão. Talvez existam, e eu seja néscio demais. Fato é que cada uma dessas baixas comparo a uma eliminação de caminho, uma mudança de rumo.

Creio que uma mística energia divina é que vai conduzindo esse "jogo". A condução leva a um único fim: a glória de Deus e o bem do homem. Tudo, o tempo todo, concorre para isso, exceto nossos pecados. Agora, quais seriam as razões pelas quais a gente ainda está onde está? Tantos colegas já tomaram novos itinerários, mas nós ainda estamos aqui...

A música afirma "tudo é incerto e por isso mesmo exato, tudo que for pra ser será". Então nos cabe esperar? Ou o melhor é se aventurar? Permanecer na comodidade do que se conhece e sentir-se seguro? Buscar o novo que está crescendo e se mostrando apetecível dentro de nós? Não, ledores, não tenho respostas, apenas perguntas. Todavia, em si, cada pergunta já é uma resposta!

Perdão, amigos e amigas, por questionar mais que afirmar. Um dia ainda aprendo a escrever melhorzinho. Só não desistam de mim antes disso. Abração.