São 09h12. Em 2006 ouvi "Criaturas da noite" pela primeira vez. Fiquei impactado com a riqueza da letra e a beleza interpretativa do Flávio Venturini. Sempre fui fascinado pela noite, desde adolescente. Aliás, nestes tempos, fui um noctívago contumaz. Juntava a eterna isônia que me acompanha mais a capacidade inventiva juvenil e as noites eram muito interessantes.
O que me atrai na noite, até hoje, é a sensação de que tendo terminado o dia, uma missão se encerrou. A emoção da conclusão, de dever cumprido, isso é que emociona, e me tranquiliza. Por outro lado, a noite, apesar do devir noturno cada vez mais acelerado, ainda é o momento do silêncio. E, com isso, a noite é a situação propícia para o exame de consciência, para o balanço da vida, para, sei lá... Nisso tudo há beleza e tristeza! Mas como os grandes mestres do samba já disseram: sem tristeza não há beleza! A tristeza concentra-se na sensação de fim, a beleza na certeza da eternidade.
Quando a música cita as criaturas da noite, cansadas pelo peso do sereno, imagino cada homem e cada mulher, não como insetos - claro, mas como seres tantas vezes fatigados pelo peso do próprio "destino". Imaginos homens e mulheres que, não tendo a oportunidade do repouso e da reflexão noturnos, perpassam a madrugada no trabalho, na esbórnia, na insônia, na solidão... Um debater-se, vezes em paz, vezes em guerra!
Rsrsrs... É, ledores, nessas horas pareço meio louco! Seria bem mais simples se eu usasse a noite apenas para dormir, não? Deus me fez assim, uai, não tenho como fugir de mim mesmo. Mas saiba, sensível ledora, nessas horas, de balanço, como o autor da música, também espero alguém chegar, e sei que chegará: o Senhor, meu Deus. A noite não existirá mais, nem a tristeza, mas a beleza e paz encontrarão sua plenitude. Amém.