terça-feira, 25 de outubro de 2011

NOITE E MORTE, BELEZA E PAZ

eNTÃO...



São 09h12. Em 2006 ouvi "Criaturas da noite" pela primeira vez. Fiquei impactado com a riqueza da letra e a beleza interpretativa do Flávio Venturini. Sempre fui fascinado pela noite, desde adolescente. Aliás, nestes tempos, fui um noctívago contumaz. Juntava a eterna isônia que me acompanha mais a capacidade inventiva juvenil e as noites eram muito interessantes.

O que me atrai na noite, até hoje, é a sensação de que tendo terminado o dia, uma missão se encerrou. A emoção da conclusão, de dever cumprido, isso é que emociona, e me tranquiliza. Por outro lado, a noite, apesar do devir noturno cada vez mais acelerado, ainda é o momento do silêncio. E, com isso, a noite é a situação propícia para o exame de consciência, para o balanço da vida, para, sei lá... Nisso tudo há beleza e tristeza! Mas como os grandes mestres do samba já disseram: sem tristeza não há beleza! A tristeza concentra-se na sensação de fim, a beleza na certeza da eternidade.

Quando a música cita as criaturas da noite, cansadas pelo peso do sereno, imagino cada homem e cada mulher, não como insetos - claro, mas como seres tantas vezes fatigados pelo peso do próprio "destino". Imaginos homens e mulheres que, não tendo a oportunidade do repouso e da reflexão noturnos, perpassam a madrugada no trabalho, na esbórnia, na insônia, na solidão... Um debater-se, vezes em paz, vezes em guerra!

Rsrsrs... É, ledores, nessas horas pareço meio louco! Seria bem mais simples se eu usasse a noite apenas para dormir, não? Deus me fez assim, uai, não tenho como fugir de mim mesmo. Mas saiba, sensível ledora, nessas horas, de balanço, como o autor da música, também espero alguém chegar, e sei que chegará: o Senhor, meu Deus. A noite não existirá mais, nem a tristeza, mas a beleza e paz encontrarão sua plenitude. Amém.

domingo, 23 de outubro de 2011

INQUIETAÇÕES ONTOLÓGICAS II

eNTÃO...

Dálias amarelas do meu quintal, um pouco abatidas pelo sol.

São 17h38. Ouço Ziza Fernandes. Nesta semana, duas dálias amarelas floresceram em meu quintal. Na próxima semana, serão as dálias vermelhas. Acabo de perceber que uma, das quatro batatas de cicca, está brotando. Maravilhoso o mistério da vida!

Ledores, perdão pelo silêncio de semana. Terça feira, participei de uma missa num bairro rural. Voltando, naquela escuridão de roça, ultrapassei um menino, de máximo 11 anos, pedalando de volta pra casa. Apaguei os faróis para ter certeza. A estrada é escura demais. Aquele jovem mancebo sujeitara-se à escuridão da noite, ao peso dos pedais, à estrada de pedras e chão batido, ao vento frio, tudo para estar naquela missa. Emocionei-me e entrei em uma daquelas minhas insanas locurações.

Senti o peso da responsabilidade de ser quem sou. Imaginei a crueldade de alguém que se apresenta para o cumprimento de sua missão com má vontade, rudeza, insatisfação... Nunca sabemos os passos dados e os obstáculos vencidos pelo indivíduo que se apresenta a nós num encontro programado ou inusitado. E como, às vezes, corremos o risco de cair na tentação do fazer por fazer, priorizando nosso cansaço ou nossos compromissos posteriores, esquecendo-nos de que aquele momento é único não só para nós, mas todos aqueles que nos cercam.

Nossa... Nada mais preciso dizer a respeito desse assunto. Um livro poderia ser escrito, o importante, contudo, é que nos convertamos. Que o mistério de ser quem somos se nos torne o acolher de uma missão que de nós é maior, pois vem do autor da vida, Senhor da história e Providência Divina, que tudo vê, tudo sabe e tudo ama.

sábado, 15 de outubro de 2011

RELAÇÕES INTERPESSOAIS...

eNTÃO...

Em 12 de outubro, participei da missa no campinho de futebol, num bairro de Jacaré Pequeno. Enquanto a missa era celebrada, meu móvel vibrou. Claro, ledores, não atendi.

Quando retornei a ligação, um querido amigo partilhou comigo a alegria do nascimento de seu primeiro neto. Fiquei feliz com ele e por ele. Na verdade, sinto-me muito bem com sua família. Fez questão que eu soubesse. Por quê? Por que somos amigos!

No dia seguinte, bati um bom papo, sobre papai, com outra querida pessoa. Sua preocupação, não só com meu bem estar, mas também com a boa recepção aos meus, quando aqui vieram, estará marcada para sempre em minha história.

Isso de, de repente, descobrir-me um tanto quanto especial para outrem sempre me deixa surpreso... Ledores, não comentarei! Rsrs...

O que vale destacar: nós nunca sabemos o alcance verdadeiro das coisas que fazemos. Não raro, nossa presença, atitudes e palavras podem significar muito mais do que realmente pretendíamos. Ao sair de nós, a mensagem adquire vida própria, e ao chegar no receptor ela passa por um processo de decodificação, criando um novo mundo, ligado ao nosso, porém distinto dele. Coi de doido, né?

Ledores, já se descobriram amados por pessoas de quem não imaginavam? Já se descobriram indiferentes a pessoas por quem nutriam enorme estima? É o mistério da vida! Sou grato a Deus por cada novo amigo e nova família que têm conquistado meu coração nessa nova jornada, junto ao Coração de Jesus. Sou grato pelos que têm permanecido, de jornadas anteriores, em minha vida. Preparo-me para os que ainda virão. Deus abençoe a todos.

INSÔNIA, ADICÇÃO E OBSESSÕES

eNTÃO...

 São 2h30. É madrugada e estou, na frente do pc, sem sono e sentindo uma necessidade urgente de escrever. Nem sei explicar, pois os conceitos se embaralham em minha cabeça. Tenho insônias desde adolescente. Em algumas épocas fica super acentuada e sofro barbaridade. Paciência.

Adicto é o dependente químico ou biológico? Obsecado é quem tem idéias fixas na cabeça e que não consegue vencê-las? A adicção e a obsessão são patológicos, mas... Quem de nós tem nenhuma espécie de dependencia ou de obsessão? Como compôs Caetano: "de perto ninguém é normal".

Ademais, adicção e obsessão têm diferenças entre si, mas no fundo não seriam muito conceitos próximos. Aquela idéia fixa, incontrolável, que acaba movendo nosso corpo e nos forçando a coisas declarada e conscientemente sem qualquer razão ou sentido. Tanto adicto quanto obsecado são capazes de qualquer coisa para alcançar seus objetivos.

 Os sintomas são: ver-se caminhando para um abismo, sabendo que é um abismo, não querendo, mas não podendo impedir. Depois do salto, o arrependimento, a tristeza, as juras de mudança e os mesmo passos falhos e indesejados acontecendo novamente, sem que consigamos vencê-los.

É o mistério tão bem desenhado por Paulo, escrevendo aos romanos: "não faço o bem desejo, mas o mal que aborreço". O chamado "mistério da impiedade". Quem de nós nunca passou por isso?

O cruel é quando esse mal vai se tornando rotineiro. Quando vai tomando posse de proporcões incontáveis em nossa vida. Quando esse mal vai se tornando dono de nós... Aí o bicho pega e pega mesmo. Sei lá mais o que dizer. Desejo que todos  consigamos controlar nossos impulsos e desejos. Deus nos ajude.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

AMOR X OBRIGAÇÃO...

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Hoje ouvi Wilson Simonal: grande cantor! Floresceram dois antúrios em meu quintal. Há três botões de dálias prontos pra abrir. Os minúsculas orquídeas amarelas têm um lindo cacho. A muda de rosas ambiancy está brotando. Os cravos rosa que podei estão com três botões prontos pra abrir. Só as cicas que estão iguaizinhas. Êta plantas demoradas.

Ontem vi uma cena que me chamou a atenção. O funcionário de uma empresa, em pleno feriado, com uma latinha de tinta, restaurando uma parede. O citado empregado não é pintor, nem serviços gerais, mas o braço direito da gerência. Quem explica? Sei lá! Não serei eu... No entanto, confesso que acabei fazendo alguns juízos.

Como é diferente quando aprendemos a gostar do que fazemos. Como é diferente quando as obrigações deixam de ser apenas imposições de necessidades pessoais ou empresariais. Como seríamos mais felizes se nosso envolvimento funcional fosse um pouquinho mais "passional". Como seria...?

Saiba, queridos ledores, quiçá o mesmo envolvimento que tenho experimentado em relações às flores seja o vivido por aquele funcionário. O prazer de ver belo o ambiente em que se vive, que se trabalha, justamente porque esse ambiente findou tornar-se uma extensão de nós. O mundo seria mais feliz se houvesse mais amor em tudo o que se faz.

Oxalá cheguemos lá.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

CONSIDERAÇÕES: TRILOGIA

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Ouço "Amor que não se cansa de amar". A trilogia acabou. Não que o assunto tenha se esgotado: daria um livro... Sábado houve a missa de sétimo dia de papai. Uma parte considerável da família esteve presente, aqui, em "Little Crocodile". Foi bom ter os meus inseridos em meu mundo.

Quando a gente muda de cidade, muda de amigos, de estilo de vida... O conhecimento se diversifica. Sabemos mais de um assunto e ficamos alheios a outros. Nossas origens, contudo, não podem se perder, e minhas raízes estão tão entranhadas em minh'alma que sou incapaz de imaginar-me sem elas.

Se minha casa fosse animada, estranharia o barulho que se fez dentro dela (rsrsrsrs). Diz a canção: "relembrar as histórias passadas desperta saudades". E quanta nostalgia presenciamos naquelas horas pós liturgia, já que a Eucaristia prosseguiu em nossa confraternização.

Pela primeira vez tive tantos familiares em uma comunidade da qual eu fizesse parte, e também dentro de minha casa. Uma homenagem merecida a "Seu" Raimundo. O ponto de encontro familiar sempre foi Dona Teresa, todavia desta vez não. Desta vez papai fez-nos rodar pelo menos oitenta km para rezarmos, sorrirmos e sermos felizes juntos. Concluo, disso tudo, que papai morreu redimido.

Sei, ledores, do cansaço de meu papaguear... Pra cerrar esse assunto confesso: consola-me a sensação de missão cumprida. Não a minha, pois esta continua! A missão de papai e mamãe está cumprida. Papai não foi santo, mas foi um dos pobres de YHWH. Creio-os felizes no céu, contemplando a face de Deus. Amém.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

TRILOGIA – PARTE 3: LUTO

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Os ritos de passagem são frequentes na história, fazem parte da antropologia humana. Um deles, incontestavelmente integrante na caminhada de todos, é o velório. Não entendo como algumas pessoas recusam sua presença ao lado de enfermos, de moribundos, ou de famílias enlutadas. Reconheço não ser fácil estar lá. Palavras nos faltam mesmo, mas um olhar empático e um abraço fraterno já são suficientes para quem os recebe.

Emocionei-me muito com a chegada de cada “jacarepequenense” em Andirá durante aquelas horas de dor. Também houve os bandeirantenses! Sou sincero ao dizer que não os esperava. Era domingo. E não tivera tempo de avisá-las. Jamais cobraria que fossem! Mas foram! Não por obrigação, mas por carinhosa caridade cristã. Deram-me força. Conduziram-me ao revaloramento da situação e da história. Mostraram-me a beleza latente na tristeza vivida.

Desta perda gerou-se em mim a sensação de solidão. De todos, sem ser de alguém: este sou eu! Feliz, assim sou eu! Ledores queridos, é tempo de amar. A morte desperta isso em nós. Não podemos deixar pra amanhã! É mister dizer para as pessoas o quanto nos são importantes, o quanto a amamos. E a hora é agora. Também é o tempo de descobrir as maravilhas de cada pessoa, mesmo que elas tenham muitos defeitos, muitos pecados. Mesmo que nos pareçam pedras, é urgente descobrir seus valores.

Findo aqui minha trilogia de quatro textos, embora ainda venha um último, com versos do Pe. Fábio de Melo: "Pode ser que nesta vida eu não possa mais voltar para amar quem não amei, consertar o que estraguei. O perdão que eu não pedi, a solidão que eu não desfiz, o sorriso que neguei e aquele esforço que eu não fiz".

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

TRILOGIA - PARTE 2b: REELABORAÇÃO

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Vejo meus alunos respondendo a avaliação de História da Filosofia Antiga. São questionados sobre Platão e o mundo das idéias. Questões filosóficas sérias, afinal um conceito pode ser apenas uma palavra quando não se fez a experiência profunda de sua realidade ontológica. Refiro-me, ledor, à experiência pessoal, intrínseca, que se pode fazer de uma coisa.

Horas antes de falecer, papai queria retirar o soro e sair pra assistir ao jogo do Corinthians. Naquele dia não havia partida. Fico pensando: qual a importância real das experiências que se faz? Para ele era vital acompanhar os embates do Timão. Hoje, claramente, percebo que me foi vital a experiência de vida daquele homem.

O jeito perfeito de plantar, que garantia 99% de pega às mudas. A fascinação por carne gordurosa. A alegria, não raro inconveniente e inoportuna. Os sambas que costumava cantar. A honestidade no trabalho. A reverência pública à Ditadura Militar. Os inesquecíveis chavões: “eu sou popular”, “eu não sou cachorro não”, “sou homão”, “sou fudido e mal pago”, “não sou cachaceiro, sou consumidor”... Frases e fatos cuja imagem estará inscrita para sempre em minha alma.

Elaborar o luto é conscientizar-se de que tudo isso acabou. Reelaborá-lo é perceber que, mesmo após já ter superado uma perda cruel, outras perdas doem igual ou mais fortemente. Nesse processo, descobrimos que, infelizmente, muitas experiências vitais foram menosprezadas. Percebemos o valor exagerado dado ao negativo.

A morte é a luz terapêutica que dissipa a cegueira relacional e faz emergir o valor do humano! Oxalá víssemos antes...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

TRILOGIA - PARTE 2a: REELABORAÇÃO

eNTÃO...


Ouço o silêncio. Sim, já tive cavanhaque grandão e cabeça raspada. Metamórfico sou eu.

Entre as condolências ouvidas no velório, uma me fez refletir demais: "Missão cumprida, né?" Eu não esperava por essas palavras. E quem as disse conhecera e acompanhara nossas lutas familiares durante uns trinta anos. Entrei numa viagem louca. Repensei todo o sentido da vida e da morte. Conclui que, na verdade, sabemos muito pouco desses mistérios tão fascinantes!

Por que será que, apesar de tantas vezes nos sentirmos incompreendidos, não sabemos lidar com os incompreensíveis? Não sei responder. Nunca sei! Entendo que nossas vidas poderiam ter seguido o mesmo rumo, porém com uma luz norteadora diferente. Antes de lê-la como uma terrível guerra entre o bem e o mal, poder-se-ia vislumbrar uma incessante guerra entre o amor e o desamor. A diferença é incomensurável.

Dizer que alguém é mau é colocá-lo atrás da trincheira oposta e reconhecer que, merecendo ou não, ele deve receber tiros vindos do meu lado. Dizer que alguém é "desamado" é colocá-lo ao meu lado e reconhecer que, merecendo ou não, ele precisa do melhor de mim. Qual a relação entre isso e os pêsames citados acima? Sei lá... Parece-me haver alguma.

Penso que a missão nos confiada pelo Criador é amar. Seria muito bom poder chegar no velório de alguém e dizer os versos de Vinícius e Jobim, cantados por Gal: "eu amei, e amei, ai de mim, muito mais do que devia amar". Assim se teria a certeza da missão cumprida, e a dor da perda existiria de modo diferente.

Será que me faço entender? Por que será que escrevo tanto sem nada dizer? Aff... Bem que eu podia ser diferente.

TRILOGIA - PARTE 1: ELABORAÇÃO

eNTÃO

Ouço Ziza Fernandes. Ela me fala de Deus, não só com letras, mas com a beleza de sua voz. A beleza revela Deus!

Sentimentos jamais provados residem em mim de modo intenso e desafiador. Preciso integrá-los! Sentimentos são passeiros se se fixarem no contexto e na sensação. Serão eternos, porém, se transformados em conhecimento e virtude.

Papai faleceu de modo rápido e até inesperado. Um homem que durante 78 anos foi forte, animado, corajoso, cantador de samba e dançador de forró, perdeu-se sem aquela com quem tanto brigou. Seus passos, sempre titubeantes entre o bem e o mal, avançaram por caminhos de frustração, perda, medo... Findou por provar do terrorismo de que ele mesmo tantas vezes utilizara. Descobriu como é terrível ter um dependente de álcool e drogas em casa. E creio que essa foi sua redenção.

Deixou de se cuidar. Impediu que outros dele cuidassem. Isolou-se no silêncio interior em que sempre vivera. Os prazeres foram ficando pra trás: dançar, cantar, comer, sorrir, conviver. Imagino quanto o peso de seus erros finalmente tornaram-se consciência. E como isso lhe fora doloroso.

Isso tudo me dói e me consola. O mais perene existente em mim é a fé. E esta me enche de perspectivas e de gratidão, pois todo esse sofrimento levou aquele opressor oprimido a orar, permitu-lhe receber a unção dos enfermos com disponibilidade, e comungar dias antes do encontro definitivo com Deus sempre misericordioso.

Ledor querido, perdoe-me pelo desabafo. Ledora querida, não sofra por mim, glorifique a Deus comigo. Amém.