sexta-feira, 19 de setembro de 2014

DERROTAS

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Pois é, a gente perde. Às vezes por não ter tentado um pouco mais. Outras porque somos realmente incapazes de vencer. Também há situações em que a derrota é causada por eventos circunstanciais casuais que, justamente por serem inéditos, nos roubam a capacidade de deliberar com sabedoria ou, simplesmente, nos impelem a uma decisão imediata irrefletida e imatura.

Fato é que apesar de termos muito boas intenções e de nos dispormos com bom coração, nem sempre tudo funciona como o sonhado. Pior ainda quando o itinerário percorrido foge daquele que fora planejado. Óbvio que não falo aqui de deslocamento físico-geográfico, mas de projeto de vida.

Enfim, nessas horas, ou voltamos ao começo e estabelecemos nova caminhada, objetivando desviarmo-nos dos desvios anteriores, ou reconhecemos que é hora de tomar novo rumo. Seja como for, do abatimento interior é muito difícil de fugir, principalmente quando se tem consciência de que as coisas não foram ou não são como deveriam ser e que, de alguma forma, você colaborou para que isso fosse assim.

Seja como for, mais pra lá ou mais pra cá entre as loas e as críticas, que Deus nos conceda a alegria de prosseguir em paz com nossas derrotas, sempre perseverando em busca da vitória final que, eu creio, nos pertence, pois somos filhos amados de Deus e "tudo concorre para o bem daqueles que o amam".

Abração, amigos ledores.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

SILÊNCIO E COMUNICAÇÃO

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Falar nem sempre é melhor! E embora haja momentos em que a vontade de denunciar incoerências seja quase incontrolável, ainda assim, calar pode ser a melhor saída. Não por medo ou por proteção, mas por prudência, bom senso mesmo. Quando a denuncia é capaz de promover mudanças significativas e, consequentemente, alavancar uma luta pelo bem, sim, a denuncia deve vir a galope. Se, porém, ela conseguir apenas promover mais males e mais sofrimentos para os inocentes, então aprendi a acreditar que o melhor é manter-me silente.


Não que isso seja fácil de fazer ou fácil de entender. Pelo contrário. Imagino que muitos de vocês, ledores, questionam minha afirmação. Ainda mais estando carentes do contexto real que me levou a esta conclusão. Bem, como sou campeão em não dizer o que não quero, não tencionarei de forma alguma qualquer espécie de exemplo. E isso para evitar que a imaginação de vocês tente ler o que não escrevi. Hehe.

Vale, todavia, olhar para si mesmo e a própria história. Nunca existiu em sua trajetória de vida aquela situação em que dizer algo, por mais que verdadeiro, apenas piorou tudo e deu muito mais dor de cabeça? Nunca existiu aquele momento em que mesmo sem querer acabou envolvendo desnecessariamente outras pessoas em problemas que eram apenas seus? Tomara que não! Oxalá mesmo.

Agora algo muito importante preciso dizer antes de findar. Não defendo aqui o "lavar as mãos" ou o "fazer-se de morto". Longe de mim incentivar uma política de resignação e conformismo. Não é assim. Acontece que mudanças estruturais, para o bem da maioria, exigem instancias não públicas.

Eita, texto complicado este de hoje. Abraço, ledores fiéis. 




segunda-feira, 15 de setembro de 2014

DESENCONTROS

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Disse o grande Vinícius de Morais: "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida!". Desde que o ouvi dizendo isso, guardo comigo essa premissa. E nos últimos tempos tenho pensado muito nisso. Os encontros e desencontros, às vezes abençoados e noutras vezes trágicos, que vivenciamos na vida.

Inquieta-me pensar em como há pessoas querendo amar pessoas que, de alguma misteriosa forma, não querem ser amadas. E não falo apenas em passionalidade, penso em alunos que rejeitam o cuidado de seus professores, pacientes que abandonam o cuidado de seus médicos, colegas de trabalho que fecham a cara e viram às costas a propostas de ajuda de outros colegas, e até suspeito de padres que se fecham ao carinho de seus paroquianos.

Tão tristemente natural tais coisas acontecerem, não? E inquieta-me mais ainda imaginar que, em muitos casos, isso se dê porque o amor oferecido, apesar de puro e verdade, é dispare do amor esperado, desejado, buscado. Esse é o pior dos desencontros. Digo isso porque em ambos os lados há veracidade, há abertura, há procura, mas "pino e plug têm medidas diferentes e não se encaixam"!

Na melhor das hipóteses fica cada qual de seu lado. Uma ou outra mágoa, um ou outro ressentimento resulta como natural. Na pior das hipóteses, no fim da vida, acabamos olhando para trás e nos martirizando com a cruel autocobrança "devia ter sido menos duro, menos fechado, menos exigente". 

Ledores, Deus nos dê um coração capaz não só de amar, mas também de receber amor. Beijo no coração de todos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

VÔOS E ATERRISSAGENS

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Essa foto é do dia que parti de Feijó para Eirunepé. Interessante que de tudo que me falaram a respeito desta cidade, as únicas coisas que realmente me parecem verdade são que por aqui se come muito peixe e que em alguns momentos nos sentimos isolados do mundo.

Não encontrei uma paróquia tão movimentada quanto se me prometiam. A cidade é movimentada. Mas uma coisa é bem diferente da outra. Também me falaram de um povo de sensualidade à flor da pele e de certo hedonismo livre. Se é assim, e não duvido que o seja, tal mundo, como não podia deixar de ser, não se aproximou de mim. Não o vejo, não o ouço, talvez perceba alguns indícios, mas que não o comprovam sem ressalvas. A cidade não é tão acabada quanto se pinta por lá. Mas precisa, sim, de investimento em urbanismo, lazer e cidadania.

A história do peixe é interessante porque há muitas reses em Eirunepé. Se todas as manhãs há venda de peixes enormes em feiras livres, há, todas as noites, muito mais casas de churrasco funcionando aqui que em Feijó. Já a ideia de isolamento, bem, desta não dá pra negar nada. Os aviões agora estão mais escassos que antes. Não têm horário de chegar nem de sair. As empresas traçam uma rota e de repente fazem outra. Se um produto acaba na cidade e pode chegar por sedex de Manaus, tudo bem, em no máximo uma semana está aqui. Mas se tiver de vir de balsa...

O legal é que eu sou o estrangeiro! Para a população local, assim é que é, e assim está bom. Desta forma, todos sofrem sem sofrer. E eu fico me perguntando o que são: vida, costumes, luxos, prazeres, expectativas e afins? Pode-se nascer, crescer e morrer no meio da floresta, ser feliz apesar dos limites, e compreender um sentido de vida inimaginável para quem vem de lugares um pouco mais desenvolvidos! Mas cá e lá são diferentes demais. Admiro quem consegue transitar pelos dois mundos e de ambos gostar.

Abraço, ledores queridos e fiéis.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A VIAGEM

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A bem sucedida novela de Ivani Ribeiro é muito sedutora. Contar uma história de amor que vence as barreiras do tempo e do espaço, perdurando por várias reencarnações, de fato mexe com a alma da gente. Penso que isso se deva ao fato de que está inscrito em nosso inconsciente o desejo de que haja uma destinação de felicidade plena e perfeita para todos. Interessante pensar que grande massa de pessoas acredite que esta destinação de felicidade se oriente para outra pessoa, a outra metade da laranja, a alma gêmea.

Ver a forma como, apesar de as circunstâncias favorecem o ódio entre Diná e Otávio, eles são vencidos pelo amor, fascina. Perceber que ambos, cada um a seu modo, são intranquilos enquanto não se conhecem, faz desejar o reencontro com aquele(a) que nos trará a paz perene e constante. Juntos, mesmo precisando enfrentar duras situações, descobrem-se fortalecidos e preparados. Porém, após se conhecerem, a separação sem volta causada pela morte deprime letalmente aquele que fica. A mesmo a saudosa tristeza da protagonista acaba sendo bonita. O reencontro em "nosso lar" é desejado e emociona o telespectador mais fiel.

O que me incomoda nesta história é a forma como, após se conhecerem, ninguém mais parece ter real valor para eles. Filhos, irmãos, amigos... todos são amados, sim, porém relegados a segundo plano na vida dos protagonistas. Sei lá... Pode até ser bonito, mas acho estranho!

Sim, é uma novela espírita. Em nada cabe naquilo que creio sobre Deus, céu, inferno, amor...Todavia cria consciência e esperança nos cristãos mais ingênuos ou desinformados que a assistam. Bem, ledores, todo esse papaguear é apenas para manifestar minhas reflexões a cerca do quanto sonhamos encontrar um grande amor e também do quanto ansiamos pela felicidade ao lado de alguém.

Que Deus nos conceda a felicidade desejada! E que a encontremos nos moldes de nossa fé. Fui.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

AMOR

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Afinal de contas, o que é amar? O que é estar apaixonado? Há quem distinga as duas coisas. Fala-se que a paixão é quente, sem juízo, juvenil e passageira, já o amor seria sereno, sensato, maduro e eterno. Já nem sei se existe uma distinção possível. Creio que amor sem paixão seja insípido, e paixão sem amor seja algo muito próximo da insanidade. Assim, a paixão tempera o amor, e este orienta aquela.

Por que falar destas coisas, ledores? Nem sei, ó. Sei que esse misterioso sentimento, que une duas almas no gostoso bem querer, fazendo-as sair de casa para ter sua casa, e "abandonar" suas famílias para constituir sua família, é um caminho de realização humana realmente divino. Não poderia ter outra fonte que não Deus.

Isso não pode tornar a vivência do amor algo fútil ou puramente pessoal e momentâneo. Não se pode dizer "temos de curtir o momento" ou "não há pecado algum nisso". E a razão pela qual faço tais afirmações é muito simples, amor não é sinônimo de irresponsabilidade, muito pelo contrário.


Pois é, voltei a falar nada com nada numa postagem. É o autor dos primeiros textos deste blog. Voltei, ledores! Hehe. Bem, findo desejando que Deus nos ensine a amar como se deve. Um amor que seja livremente responsável e honesto, satisfatório e realizante. Que os casais sejam formado para viver a plenitude da felicidade na vida a dois.

Abraços.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

ENCONTROS E DESPEDIDAS

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O vídeo é da antepenúltima cena do último episódio da última temporada de Desperate Housewives. Essa bela canção de Johnnys Mathis me marcou. Na penúltima cena, as quatro protagonistas se encontram pela para jogar cartas antes que Susan se mude do bairro. Elas se comprometem a uma vez por ano se reencontrarem para o jogo que semanalmente as divertia. A promessa é verdadeira, mas nunca chegara a ser cumprida. Pois cada uma delas se muda de lá e nunca mais acontece um encontro.

O final da série faz um retorno ao enredo da primeira temporada e é cheio de vida, de realizações, de conquistas, de superações. Todavia finda com o realismo da separação. Cada um delas, por mais cúmplices e amigas que tenham sido, acaba rodeada quase que exclusivamente do marido. Isso me fez pensar na fugacidade da vida e das relações.

Acredito que as personagens se gostaram para sempre. Recordaram com carinho uma das outras até o fim da vida. E tiveram muitas e intensas saudades de tudo o que viveram, aprontaram e resolveram juntas. Mas houve um momento na história de vida delas em que a separação foi indispensável. 

Fiquei pensando: "a vida realmente é assim?", "são mesmo pouquíssimas as pessoas que vão durar em nossa vida até o finzinho dela?". É quase certo que sim. Bem, ao mesmo tempo que em essa música, que passei a ouvir muito de um ano pra cá, me entristece pela lembrança dos distanciamentos que a vida nos impõe, ela também reforça algo que prego há tempos "como é bom ter amor e carinho para recordar!".

Sim, acredito de verdade que a saudade e as lembranças podem ser carregadas da gratidão e da alegria de saber que amamos e fomos amados. O fim de um relacionamento, de uma proximidade ou de estágio de vida não precisa gerar saudades carregadas de tristeza e de perda, pode gerar saudades sobrecarregadas de alegria e gratidão. Afinal, como é bom poder saber que vivemos momentos bons ao lado de pessoas queridas.

Por fim, vale lembrar que não se pode perder a oportunidade de curtir os momentos e as pessoas que estão conosco hoje. Se um dia serão passado, pois que amanhã nos lembremos de hoje com a satisfação de o termos vivido intensa e saborosamente.

Fui.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

UM ANO...

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Hoje faz um ano que escrevi para Dom Antonio Braz mencionando meu desejo de mudar de paróquia e explicitando certo enamoro ao pedido da Diocese de Cruzeiro do Sul por ajuda missionária. Estive lendo o que escrevi naquela data e lembrando do contexto. Fazer memória nos deve ajudar a entender quem somos e como assim nos tornamos.

O ano de 2013 foi marcado por muitas desilusões, já desde janeiro. E muito do que eu considerava verdadeiro, revelou-se incerto. Descobri a fugacidade do respeito e do carinho nos quais acreditei e fiz a cruel experiência da solidão sacerdotal. Os que nos poderiam proteger cruzam os braços. Os que nos poderiam consolar não devem conhecer tais bastidores. E a nós, cristãos, com nossos limites, dores, fraquezas, nas mais difíceis horas de crise, cabe apenas um imperativo: amar!

E nasceu em mim a necessidade de sair de onde estava. O mais "doido" é que todas essas intempéries me fizeram olhar para o novo, para o inédito. O Acre não entrou na minha vida como uma rota de fuga, mas como uma oportunidade de me renovar, de me reencontrar com o ideal sacerdotal que cultivei por sete anos no seminário e de me reinventar como homem, como cristão e como padre. Eu tinha outras opções, paróquias na diocese ou próximas da diocese, todavia eu sonhava com a Amazônia, na qual displicentemente falava já um ano antes de tudo isso.

Eu queria servir. Queria ajudar a uma diocese que há anos nos pedia ajuda sem resposta positiva. Queria ir ao encontro de pessoas afastadas geograficamente da Igreja e dos sacramentos. Queria me desvincular um poucos dos apegos materiais que se haviam gerado em mim. Mas acima de tudo, queria fazer a vontade de Deus. E a certeza de que meu rumo em 2014 era o Acre foi tão intensa quando a certeza de que deveria deixar família e trabalho para ir pro seminário e ser padre.

Enfim... "Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8,28). A cada dia me convenço mais de que me era necessário partir. Se eu disser que me apaixonei pelo norte do Brasil, minto. Se eu disser que estou mal ou sofrendo aqui, também minto. A grande verdade é que Feijó e Eirunepé me fizeram bem! Pois de alguma misteriosa maneira meu coração está sendo remodelado.

Sou grato a Deus pela vida, vocação e experiência na Amazônia. Grato a Dom Antonio Braz pela compreensão e apoio; a Dom Mário Antonio pelos conselhos, amizade e incentivo; a Dom Fernando José Penteado que me ensinou muito de justiça, de preocupação social e trato com os pobres; a Dom Mosé pela atenção, pelo respeito, por me ouvir e entender. A vocês ledores, minha gratidão eterna, pois a grande maioria de vocês, antes de ledores, são amigos queridos.

Virgem, isso já está virando tratado. Ainda aprendo a falar pouco. Fui.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

TEIMOSIA E CONCESSÕES

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Em 2010, resolvi não mais rezar missa no Santuário de Schöensatt, em Jacarezinho. Em 2013, resolvi que as atividades lúdico-sociais programadas para comemorarmos o dia do Sagrado Coração fossem canceladas. E jamais disse as razões.

No primeiro caso, voltei ao Santuário um ano depois para reencontrar uma querida amiga de São José da Boa Vista que para lá peregrinara. Algumas pessoas se assustaram quando me viram. Mas acabei, anos depois, rezando duas missas lá. Uma para os carismáticos da paróquia e outra por ocasião da visita da Imagem Peregrina original usada pelo Pozzobon. Concessões nada fáceis, mas ainda bem que feitas.

Quanto ao segundo caso, fiquei feliz quando dois bons amigos me ligaram dizendo: "Padre, o senhor pediu para não perguntar o motivo, mas senti que houve algo grave, e que o está fazendo sofrer. Conte comigo, com meu apoio, com aquilo que for preciso. Estamos juntos.". Não sei se eles lerão este texto, mas com aqueles telefonemas, sem saber, me ajudaram muito. Só Deus sabe a solidão que eu sentia naquela hora.

Bem... Às vezes fico me perguntando por que faço essas coisas. Abraço a responsabilidade e morro com ela se preciso for. Nos dois casos citados, por preferir ser julgado e condenado a criar divisões na comunidade. Na verdade tudo teria sido mais fácil se simplesmente eu tivesse continuado a rezar as missas no Santuário e deixado acontecer o jantar e o almoço programados. Todavia se assim o fizesse, teria sido infiel a mim mesmo e a meus princípios.

Enfim, nessas horas pareço um ditador, teimoso, firme, indobrável. Queria ser diferente. Talvez um dia seja. E neste dia, possivelmente eu não seja mais eu! Ledores, que complicação sou, não? Paciência. Que meus antigos paroquianos me perdoem, e que os futuros não passem pelo mesmo. O pior é que na verdade não sou tão ruim quanto, nessas horas, pareço.