quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

AMORES E AMORES ... ... ...

eNTÃO...

Ontem, percorrendo estradas acrianas, um bom papo fez-me a alma viajar pelo tempo até os dias da criação e do pecado original, contemplando as consequências iniciais daquilo que chamo amor. Formados do pó da terra, animados pelo hálito de Deus, presenteados com o Éden e devidamente orientados sobres os riscos de suas decisões, Adão e Eva puderam, não só escolher, como praticar o pecado.

Um intervenção externa impediria essa infelicidade? Quiçá sim. Todavia Deus não interferiu. Omissão? Descaso? Desconhecimento? Simplesmente amor! O sublime "sentimento" não cerceia, não oprime, não domina, não impõe. Assim é que é.

Estranho o modo como algumas pessoas creem ser donas de outras. Fiscalizam. Sondam. Adivinham pensamentos. Exigem senhas de celular e de redes sociais. E se desesperam, perdendo o rumo da vida, em insanas teorias de conspiração. Ciúme sem origem em afetividade e sim em possessão distancia-nos do testemunho de amor do Criador, o qual, por sinal, sente ciúmes de suas criaturas, sem, contudo, tirar-lhes a liberdade.

Quem ama cuida, protege, não quer perder... Para isso, busca, sem subserviências, cativar e recativar a cada dia. Dar-se, sem humilhações, para realizar-se no encontro com o outro que, sabendo acolher no mesmo amor, retribui gratuitamente. Utopia romântica? Talvez seja na possibilidade de vivência perfeita, mas não na construção diária de uma relação maior e melhor.

Oxalá 2016 nos proporcione isso em todos os níveis interpessoais: familiares, fraternos, passionais, etc... Ledores, não sabendo bem como findar o último texto do ano, resolvi eleger um retrato que me diga algo de 2015. Feliz ano pra todos. Bjs.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

INEFABILIDADE...

eNTÃO...



Ledores, perdão pelo silêncio destas últimas semanas. Meu álibi é o de sempre: o tempo está escasso. Ontem pensava sobre o processo de bota fora. Embora tendo planejado despedir-me no aeroporto de Cruzeiro do Sul, tudo se encaminhou para que eu percorresse as estradas do estado, passando dois dias por Feijó.

Em 2004, em uma missa de despedida, me fizeram chorar ao dizer que, segundo a bíblia, a terra pisada por um homem de Deus é-lhe dada pelo Senhor. Alguns solos amazônidos muito sagrados tornaram-se meus. E surpreendi-me com isso.

Vivo a descoberta do quanto o que nos é simples e, às vezes, até conscientemente devido, pode ser importante e marcante para outrem. De repente a gente ouve "não há palavras para agradecer tudo o que fez por mim" e se pergunta "mas o que foi que eu fiz?". E nada de pessoalmente extraordinário se apresenta. Fica o silêncio, a dúvida que não maltrata e nem inquieta, mas traz serenidade e solidão.

Sim, solidão. Não no sentido negativo da palavra, se é que possua algum sentido positivo. Creio que este "estar só" desenhe, ainda que imperfeitamente, o sentimento de ser de todos e não ter alguém.

Atenção, ledores e ledoras, não me refiro a qualquer espécie de relação passional. Com melhores palavras: o caminho a percorrer está povoado de pessoas, a força da missão, contudo, faz seguir em frente, encontrando amiúde novas gentes e as deixando também.

O melhor é acreditar que ninguém fica por completo pra traz, assim como nunca levamos tudo de nós adiante. Fica algo, na devida proporção daquilo que levamos. Enfim, estou estranho, mas em paz. Esperançoso e temeroso ao mesmo tempo. Feliz e saudoso. Miscelânea de sentimentos? Pois é, assim sou eu, muito prazer.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

SONHOS, MEMÓRIAS, TEMORES

eNTÃO...

Ledores, na noite de sábado para domingo, tive um sonho simples e estranho. Éramos três em minha fantasia onírica: alguém de quem não me lembro, um antigo colega de turma no seminário e eu. Falávamos sobre mudas de plantas, ele, o colega, conseguira de uma semente, uma planta de dois caules, algo extremamente raro no tipo de árvores que estávamos cultivando. Depois disso, falou sobre o irmão, supostamente residindo no Rio de Janeiro. E finalmente acordei, de madrugada, assustado e com certa ansiedade. Isso porque a sensação, ao despertar, era a de que ele tivesse morrido.

Não costumo me lembrar das cenas visualizadas quando durmo. Nem curto escrever ou falar sobre isso. Menos ainda me interesso por interpretações de sonhos. Creio que o futuro a Deus pertença, cabe-nos cuidar do presente, com boa consciência e sendo nós mesmos. No entanto, fiquei curioso perguntando-me porque tal situação fez-me ver no diálogo um momento de despedida tão intensa como o adeus forçado pela morte. Suspeito de algumas razões.

O que mais me impressionou, porém, foi o fato de o sonho ter-me levado a algumas conclusões fatalistas. A primeira delas é o reconhecer que algumas pessoas nunca crescem. Refiro-me a comportamentos que, por mais que sejam mostrados, falados, exemplificados, os indivíduos não conseguiam ver, ou finjam não ver, e sob este pretexto, continuem a reproduzi-los. Parecer o que não se é? Transformar pessoas em troféus? Já nem sei se infantilidade ou carência afetiva em extremo. Talvez seja eu que já não cresça...

Como lidar com isso? Com os sonhos, pôr os pés no chão, acalmar o coração e reconhecer que não passou de ilusão. Com a realidade, apesar dos temores daquilo que ainda está por vir, permitir-se viver, buscando maturidade e tentando aprender a lidar com o todo ao redor. E isto não é fácil, afinal, quão difícil somos nós. Ou melhor, quão difícil sou eu. Paciência, ledores, "muita 'hora' nesta 'calma'".

Grande abraço. Até breve, se Deus quiser.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

AUTO-HUMILHAÇÕES ???

eNTÃO...

Ledores, hoje me peguei a pensar no estado de espírito que possa levar uma pessoa a mendigar por sentimentos claramente negados por outrem. E me senti mal só de imaginar o grau de carência interior que leva a isso. Implorar um carinho, ainda que verbal, ser-me-ia humilhação demais. Não posso vaticinar a impossibilidade de acontecer, mas confesso, sem arrogância, que a improbabilidade é enorme.

Amor próprio é algo de que não se pode abrir mão. Autoestima também. Claro que tais valores não são tão gratuitos quanto pareçam. Creio que sejam, na verdade, construídos historicamente a partir da interação entre a personalidade inata e os relacionamentos diários com família e sociedade. Quem desde sempre se sente amado tende a desenvolver uma segurança maior de si, para si e consigo mesmo ao longo da vida. Já quem, desde os primórdios da vida, experiencia rejeição, tende a carregar tais marcas pelo resto da vida.

Devido a tais conclusões, fico ainda pior diante de gente que disfarçadamente joga com as palavras em busca de fisgar um ato falho que lhe permita deduzir o afeto almejado. A verdade é o que é, e é evidente em si mesma. E por mais que doa, há momentos em que só nos resta aceitar a realidade como ela é, aprendendo a com ela conviver, e sendo feliz desta forma. Murro em ponta de faca, até quando? Pra quê? Pelo simples fato de sermos seres humanos merecemos bem mais do que isso.

Enfim, amados e fiéis ledores, como sempre termino consentindo com a cruel afirmação de não saber exatamente sobre o que escrevo e porque o escrevo. Paciência. Um dia, talvez, quem sabe, minhas loucurações sejam-nos desvendadas. 

Beijo no coração de todos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

"LOUCURAÇÕES" MISTERIOSAS

eNTÃO...

Decidi escrever, mesmo sem ter assunto. Que coisa, não? Saibam, ledores, algumas vezes, queremos dizer, noutras, simplesmente, nos satisfaz calar. Por isso se nos torna sempre necessário ter nossos refúgios, aqueles lugares onde se pode falar com confiança livre e também aqueles onde o silêncio não é questionado e nem desafiado.

Na infindável realidade que é nosso mundo interior, há anseios por ambas situações. E embora exista quem seja sempre calado ou que nunca se aquiete, ouso acreditar que, respeitando tais exceções, o humano precisa guardar sua intimidade, sem jamais se deixar prender ou escravizar por ela.

Segredos demais fazem mal. E quando são muitos, geralmente, a maioria é desnecessária. Longe de mim defender a abertura total e plena da vida pessoal e dos fatos que a colorem, apenas imagino que quanto mais leve for o modo de lidar consigo mesmo e com suas coisas, mais tranquila residirá a alma no corpo.

Mais do que não ter o que esconder, melhor será sempre saber lidar com o que aquilo que guardamos no mais íntimo de nós. Mais do que temer a verdade revelada, temamos a mentira crida. E que no dia em que a luz de Deus projetar-se sobre nós, revelando-nos a nós mesmos, a surpresa não nos seja inesperadamente negativa. Amém.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

RECONHECIMENTO, SÓ ISSO

eNTÃO...


Marechal Thaumaturgo - Ac - Dezembro/2015
Às vezes me pego pensando nas inter-relações que se estabelecem em nossa história. Sim, ledores, é um assunto recorrente em minhas postagem. Infelizmente meu cabedal de assuntos e minha capacidade redacional não é das melhores. Perdoem-me as limitações. Feita minha confissão, voltemos ao principal.

De repente se chega a uma cidade onde se conhece ninguém. Aos poucos as pessoas nos vão acolhendo e, naturalmente, estabelecemos afeições especiais com algumas delas. Na maioria das vezes sem qualquer razão matematicamente explicável, encontramos pais, mães, irmãos e até filhos que, não tendo nosso sangue, parecem ser nossa família. Essa gente cuida de nós, e nós cuidamos delas. A permuta de carinho aí nascida teria em teorias psicológicas o rótulo de "comerciais", ou seja, motivadas por interesses e necessidades mútuas. Mas para os que a vivemos, é apenas um encontro com a felicidade.



E por que não chamar de felicidade o momento mágico em que percebemos que não só amamos, mas somos igualmente amados. Que sentido maior encontraríamos em viver sem essa transcendente capacidade de acolher e ser acolhido, não apenas em cômodos, mas em corações? 

Melhor ainda é saber que a linha que costura tais encontros, embora destinados a despedidas próximas, é a fé naquele que é O Transcendente por excelência, A Fonte do Amor. De tal modo que o pano de fundo presente em cada sorriso de encontro e em cada lágrima de adeus será sempre a construção do Reino de Deus. Por ele e só por ele, "sem cachaça e sem pinga", é que se me multiplicam os conhecidos, os amigos e as famílias adotivas.

No fim, reconheço entender nada do que acabo de escrever. Sei que as coisas são como são, não o porquê de serem. Se Ele quiser, um dia nos explique. Em todos os casos, "seja feita sempre a Sua vontade".



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

INTERIORES

eNTÃO...

Uma senhora de pouco mais de trinta anos faleceu hoje em Marechal Thaumaturgo, interior do Acre, última cidade do Juruá antes da divisa com o Peru. Razão? Uma espinha de peixe parou-se-lhe na garganta. Acontece? Sim e não. Creio que "engasgar" seja enfermidade de diagnóstico fácil. Ficar quatro dias no hospital com a espinha na goela, sem que se consiga retirá-la já me parece fora da realidade tecnológica dos nossos tempos. Não tendo mais recursos locais, a família paga um aviãozinho para levar a mãe e esposa para um centro maior, Cruzeiro do Sul. E o que lá acontece? Não retiram a espinha, mas a empurram mais para dentro. Com isso, cerca de dez dias depois de degustado o bendito peixe, a senhora faleceu. 

Ledores, morrer faz parte e não se pode fugir disso. Que a medicina tenha seus limites e que um deles seja a incapacidade de salvar sempre e de salvar para sempre é um truísmo que devemos aceitar. Porém ainda me choca, vinte e um meses depois, que comunidades grandes, e mesmo pequenas, no interior do Brasil, possam estar tão relegados aos isolamento. Circunstâncias geográficas e escassez de recursos são desculpas aceitáveis, todavia não satisfatórias. Pois se somam àquela que, na minha opinião de cidadão, é a mais grave e mais presente: o descaso governamental.

Primeiro prefeitos que nunca são vistos na cidade. Depois vereadores que se interessam nada por políticas públicas. Tudo isso agravado por dois fatores culturais arraigados fortemente na sociedade local: a resignação que suscita o pior de todos os argumentos ouvidos "sempre foi assim, tem jeito não"; e a corrupção dos eleitores que troca seu foto por pequenos favores e grandes promessas. Explico: pequenos favores seriam sacolões, um caixa de remédios, uma conta de luz paga e congêneres; grandes promessas se encontram na esperança de um emprego, de assumir uma secretaria, de ter salário garantido e algum status social.

Dentro desse esquema, a ordem primeira para quem está no poder é enriquecer e gozar a vida. Órgãos fiscalizadores ficam distantes, nas capitais. Assim, nos interiores, postos e hospitais nunca têm remédios. O tráfego se dá desviando dos buracos, quando não atolando na lama. Alunos estudam numa mesma escola, mas cada turma numa casa alugada em diferentes pontos da cidade. Água tratada? Difícil. Saneamento? Cada um que tenha nos fundos do quintal uma casinha onde depositar seu estrume humano. Acesso: horas num barco ou fortunas num "teco-teco". Comunicação? Rezando para o sinal de telefonia não desaparecer de repente.

Não ledores, a Amazônia brasileira não é assim pra todos e nem em todos os lugares. É assim com os pobres, que são a maioria. É assim com aqueles que moram mais distantes. Mas o que mesmo está perto daqui? Ao menos nossos olhos e corações cristãos lembrem-se com carinho e preocupação deste lugar. Aqui, além de árvores e animais carentes de preservação, também temos gente precisando de dignidade e respeito, educação e cuidado.

Por fim, tal postagem não é desabafo ou algo similar. É apenas produto de um sentimento sem explicação. Deus tenha misericórdia deste mundo tão cheio de pecado. Amém.