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Vejo meus alunos respondendo a avaliação de História da Filosofia Antiga. São questionados sobre Platão e o mundo das idéias. Questões filosóficas sérias, afinal um conceito pode ser apenas uma palavra quando não se fez a experiência profunda de sua realidade ontológica. Refiro-me, ledor, à experiência pessoal, intrínseca, que se pode fazer de uma coisa.
Horas antes de falecer, papai queria retirar o soro e sair pra assistir ao jogo do Corinthians. Naquele dia não havia partida. Fico pensando: qual a importância real das experiências que se faz? Para ele era vital acompanhar os embates do Timão. Hoje, claramente, percebo que me foi vital a experiência de vida daquele homem.
O jeito perfeito de plantar, que garantia 99% de pega às mudas. A fascinação por carne gordurosa. A alegria, não raro inconveniente e inoportuna. Os sambas que costumava cantar. A honestidade no trabalho. A reverência pública à Ditadura Militar. Os inesquecíveis chavões: “eu sou popular”, “eu não sou cachorro não”, “sou homão”, “sou fudido e mal pago”, “não sou cachaceiro, sou consumidor”... Frases e fatos cuja imagem estará inscrita para sempre em minha alma.
Elaborar o luto é conscientizar-se de que tudo isso acabou. Reelaborá-lo é perceber que, mesmo após já ter superado uma perda cruel, outras perdas doem igual ou mais fortemente. Nesse processo, descobrimos que, infelizmente, muitas experiências vitais foram menosprezadas. Percebemos o valor exagerado dado ao negativo.
A morte é a luz terapêutica que dissipa a cegueira relacional e faz emergir o valor do humano! Oxalá víssemos antes...
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