eNTÃO...
Como é difícil traduzir em palavras os sentimentos, não ledores? Vamos tentar.
Quando me deixei trazer para o norte, pensei nas perdas que faria. E, posso não ter jamais mencionado antes, mas refleti muito sobre como seria se alguém que me fosse caro falecesse e eu estivesse tão longe que mal pudesse ficar sabendo. E, creiam, não me foi fácil encarar essa possibilidade e ainda dizer "sim, eu vou".
Concluí que, comigo ou sem mim, as pessoas nasceriam e morreriam de qualquer forma. Acreditei que, comigo ou sem mim, as pessoas que trago no coração teriam as homenagens merecidas se chegasse seu momento de ressurreição. Redescobri minha pequenez e a grandiosidade da vida. Reconheci ser desnecessário no rumo de vida daqueles que amo, para poder livremente entrar no rumo de vida dos que precisaria, não só conhecer, mas aprender a amar.
Sei que estas últimas afirmações são estranhas, porém não encontrei outra forma de dizer que ficar para esperar a morte já seria caminhar para ela. Há muita vida no horizonte. Muitos encontros se me mostravam precisos, e eu sentia a necessidade de fazê-los. Confesso, no entanto, a cada desobriga que enfrento, volto com a mesma tensão: "terá, nesses dias em que estive isolado na beira dos rios, morrido alguém?"
Nesta desobriga a resposta foi afirmativa. E pude viver, não pela primeira vez na missão, o pesar de não estar lá, com minha presença, reafirmando a importância de tais pessoas na minha história de fé. Dói o desejo de dar e receber alguns abraços nessa hora. O por mais sinistro que pareça, faz-me falta ter ajudado a carregar aqueles féretros. Erguê-los e acompanhá-los seria meu jeito simples de dizer "obrigado".
O que pude, fiz. Ofereci minhas missas com gratidão a Deus pelo aprendizado, companheirismo e acolhida que recebi e que estarão para sempre em minha alma. Contudo, não há de que me arrepender. Havia sementes para plantar, não me consegui negar a essa lida. Se estive ausente lá é porque fui presente aqui.
Por fim, lembro os versos da canção: "é possível crescer nesta hora, mesmo quando o que amamos foi embora, a saudade eterniza a presença de quem se foi, com o tempo essa dor se aquieta, se transforma em silêncio que espera, pelos braços da vida um dia, reencontrar!".
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