Essa música, ah, essa música... Sim, se não me engano, Chico Buarque a compôs para ser trilha sonora de uma prostituta numa peça de teatro. Não vi o espetáculo e não conheço a personagem, fato é que a fenomenal interpretação da cantora não me faz pensar numa mulher forçada pela pobreza a entregar seu corpo para todo e qualquer tipo de torpeza masculina.
A canção me faz pensar numa mulher que experimentou os prazeres da vida e descobriu que seu maior prazer é dar prazer. Sente-se especialista nisto e conhece as qualificações que tem. Por isso faz sua autopropaganda sem modéstia e até com orgulhosa vaidade. Satisfaz-se por satisfazer, e, desta forma, não necessita de grandes pagamentos, basta-lhe um doce bombom.
Não obstante tudo isso, vale ressaltar que tal mulher, dotada do maior poder de sedução que pode existir, seu amor por si mesma, não se engana e nem engana seus amantes. O relacionamento não existe! É apenas uma troca de afagos e de suores, de elogios que satisfazem egos. É uma colossal paixão que permanecerá eterna por uma noite, apenas uma e não mais que uma, nada além.
A letra evidentemente forte para sua época, fins da década de setenta, maliciosa e perfeitamente interpretada neste acústico, dá a sensação de que essa mulher é feliz e realizada, pois se conhece, sabe quem é, do que gosta, o que faz e porque faz. Como julgá-la ou condená-la? Eu não consigo.
Ledores, por favor, não me acusem de apologias que não faço, apenas entendam meu reconhecimento de que as pessoas podem, sim, ser felizes, sendo diferentes dos padrões nos quais nos colocamos e até disseminamos. Com respeito e consciência, que cada um seja o que é, e pronto.
Beijo no coração de todos.
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